terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um Artisto Urbano

Por Icelindre Andrade
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
Foi em uma tarde de quarta feira, que tive a oportunidade de conversar com o artista plástico, ator, cantor, DJ, apresentador de programa de rádio, professor de artesanato da UATI, produtor de eventos, contador de histórias, skatista e juazeirense nato, Jocélio Bello de Carvalho, conhecido também como “Jagunço Style”. Confesso que fazer o perfil de um artista tão completo foi um desafio para mim.
A conversa com o artista aconteceu na Rua Santo Antonio na casa de sua mãe, onde ele mora desde que nasceu. Quando cheguei à casa do artista, fui recebida por sua mãe que veio abrir a porta com um sorriso no rosto e pediu que eu entrasse. Foi então que comecei uma conversa descontraída com Jocélio, no ambiente tranqüilo da sua residência.
Sua história com a arte começou aos 14 anos de idade, quando ele se interessou em pintar camisas para skatistas. Foi nesse período que ele lançou a marca “Jagunço Style”, e começou a ganhar dinheiro com a confecção das camisas. A partir daí, foi se aperfeiçoando nessa “coisa” do traço marcado.
Esse libriano nascido em 21 de outubro de 1974 tem 37 anos e é o caçula entre Alina Maria Bello, Helder Bello e Paulo César de Andrade que são seus três irmãos. Ele conta que é fascinado por música, esporte, cultura e arte. O seu trabalho se baseia em combinar experiências visuais e sonoras, criando performances audiovisuais e contextuais. Ele gosta de trabalhar com a arte do grafite e agora é responsável pela produção de eventos de bandas e projetos ligados ao esporte. Também atua hoje com adolescentes, idosos e normalmente em atividades diárias, entre outras também artísticas.
Bastante envolvido com projetos de arte para crianças e adolescentes, Jocélio falou que sua infância foi no bairro Santo Antonio e foi bacana. Teve acesso a todos os brinquedos que a “gurizada” brincava na década de 80, como rodar pião, brincar de pega-pega. “Brincadeiras que hoje as crianças não fazem mais, pois tem essa questão do mundo virtual que elas fazem parte na atualidade e antes se produzia e brincava com o carrinho de lata, e fazia círculos e era bem legal, era uma coisa bem mais ativa e bacana e marcou muito e é uma referência”. 
Foto: Icelindre Andrade
Na conversa, percebi que o artista Jocélio tinha um olhar firme e concentrado no chão. As mãos estavam muito inquietas e, algumas vezes, se entrelaçavam. Durante quase toda a conversa, ele estava com as pernas cruzadas e sentado na cadeira de uma mesa verde da sala de sua casa. O artista magrinho, usando short jeans xadrez e camisa branca, sandálias havaianas e um boné preto,  mostrava toda uma simplicidade do seu modo alternativo de ser.
Jocélio relatou como foi sua trajetória como artista. Ele começou a se destacar quando fez uma banda nos anos 90 chamada Rappers Dura, e a partir daí começou a ser inserido na cena baiana. Ficava com a banda em Juazeiro e viajava também para Salvador, fazendo diversos shows. Durante esse intervalo, fez também teatro infantil, onde chegou a participar de 12 espetáculos teatrais.
Com sua arte urbana e bastante alternativa, Jocélio conta sobre sua admiração pelo artista Jean Michel Basquiat, por ter feito das ruas sua arte e é uma referência. Os seus traços não são parecidos com o dele, mas a influência de sair das ruas e fazer a arte do jeito que ele acha que deve ser. Uma arte regional misturado com a “coisa” do contemporâneo, com traços da cultura do grafite. Ele diz que é muito ligado com a escrita, dessa “coisa” mais “Underground” de produção. “Faça você mesmo, então é isso, tem essa “coisa” do regional e da “coisa” nova que é a vertente do grafite, da arte plástica em geral", declara.
Sobre a originalidade de sua arte, Jocélio diz que se considera um artista original, porque leva isso da sua bagagem cultural, da família e pelos seus pais serem do Pernambuco. A sua arte tem influência da cultura popular nordestina, como a música de Luiz Gonzaga, o artesanato regional. Então, ele conta que o seu trabalho tem identidade e quando o pessoal vê uma “carranca” já se lembram do seu trabalho.  Hoje ele tem experimentado o trabalho da dona Ana das Carrancas, do Paulo Queimado, O Guarani, representantes da arte brasileira de fazer carrancas. Dessa forma, seu trabalho tem identidade com a sua filosofia de vida, de filho de nordestino, mas com a cabeça no mundo.
Sua vida é marcada pela arte e por desafios. Jocélio já trabalhou como ator com um elenco bacana da Rede Globo, como o ator Marcos Suzano, no elenco do filme “Meteora”, gravado no Salitre e que tem um registro bacana do artista juazeirense. Trabalhar com Leandro Mansur, Claudio Marzo e Paula Burlamaqui foi um desafio e, ao mesmo tempo, uma experiência satisfatória, diz o artista Jocélio. Ao  tempo que ia relatando essa experiência, fazia questão de mostrar os álbuns fotográficos com os registros mais importantes.
O cotidiano do artista normalmente é dividido de segunda a terça feira para fazer os seus trabalhos em casa, como pinturas, restauração e trabalhos com montagem em tela. Nas quartas feira, faz um trabalho com a Universidade Aberta a Terceira Idade; nas quintas-feira, trabalha no colégio Ruy Barbosa com os adolescentes assistidos do projeto MAIS EDUCAÇÃO e nas sextas feira faz o programa Coletânea das 9 às 10 da noite, na Rádio Transamérica Hits, desde o final dos anos 90.
                                                                                                                                   Foto: Icelindre Andrade
Proveniente de religião católica, Jocélio diz que hoje acredita muito no espiritismo e ler bastante sobre essa religião. Ele diz que a morte do seu pai em 2004 e do seu avô foram fatos que marcaram bastante sua vida e acabou aprendendo a ler sobre religião. Foi o espiritismo que o ajudou muito a confortar o seu coração e a mostrar muita coisa legal, como ajudar o próximo e entender as pessoas, por isso tem sete anos que Jocélio é adepto ao espiritismo. Quando perguntei o significado da palavra “família” na vida de uma pessoa, o artista Jocélio diz que é a formação. “É você conquistar o amor de outras pessoas. A família é o conjunto dos valores e dos princípios morais da formação de um homem e se você tiver base na família você é uma pessoa realizada na vida” finalizou a frase com um olhar emocionado.
Para Jocélio Bello, a sua maior contribuição para a arte regional foi ter colaborado com o cenário musical local através do Rapperes Dura e também com produções, trazendo bandas de fora para cá. Com o teatro infantil, deu sua parcela de contribuição para essa garotada de hoje. Jocélio conta que Maria Clara Machado é do Teatro Brasileiro e, através dessa influência, ele realizou alguns trabalhos para essa juventude, por vim do trabalho com o teatro desde 1996, e assim Jocélio enfatizou sobre a sua contribuição como artista Juazeirense e Nordestino onde o mesmo está mostrando para a galera o que é arte, o que é musica.
Seu hobby é andar de skate, porém relembra que já sofreu preconceito por causa das roupas e acessórios que usava, pois ele diz que ter o cabelo e barba grande nem sempre é encarado como esporte pelas pessoas, mas ressalta que foi, graças ao skate, que se abriram portas para muitas coisas. E também confessou que trabalhar com a arte, com pintura, com música na região do São Francisco requer muita persistência e com a música principalmente, pois há barreiras principalmente em Juazeiro. Já na cidade de Petrolina, o artista confessa que tem um maior espaço para desenvolver o seu trabalho artístico.
Para Jocélio, o maior desafio do artista é sobreviver da arte. Ele relembra que, quando tinha sete anos de idade, viu um amigo dele que é artista plástico, pintando os desenhos da Walt Disney. Foi então, que Jocélio falou assim: “pow eu quero fazer isso no meu futuro também”. Então, desde criança ele já produzia, já desenhava personagens de quadrinhos para vender na escola e foi produzindo até que começou a fazer cenário e fez o cenário para TV. Assim, Jocélio foi marcando seu trabalho e hoje a TV Grande Rio tem um cenário seu, TV São Francisco e Norte Rural também. O artista diz que esses trabalhos foram muito importantes para seu desenvolvimento e qualificação como profissional. Cada vez mais, ele procura se aperfeiçoar em cursos de cenografia, pois gosta de fazer montagem e de instalação.
Em meio à conversa, perguntei a Jocélio se ele se sentia uma pessoa realizada como artista e como ser humano. Foi aí que ele respirou e ficou em silêncio alguns segundos. Em seguida, respondeu que ainda não conseguiu montar seu ateliê para trabalhar, mas que, graças a Deus, tem sobrevivido com o seu trabalho e só por esse fato já se sente uma pessoa recompensada, pois tem uma boa aceitação do público. O artista relatou que recentemente esteve no Festival de Verão de Aracaju, com participação do Rappa, Seu Jorge, Charles Brow Jr, Mano Brow entre outros. No mesmo evento Jocélio foi convidado para colocar a caixa de som na Arena de esportes radicais. “Foi bastante legal por ser um “cara” do nordeste e ter esse reconhecimento da galera de parte do Brasil isso já é uma grande recompensa”, afirma.
Para o futuro, o profissional sonha em ter um espaço maior para trabalhar com a sua arte e com outros artistas também. Pretende trabalhar com meninos de rua e, para isso, é necessário ter um ateliê. Seria uma cooperativa onde todos os artistas teriam esse espaço para trabalhar com a música, artesanato entre outras artes. Dessa forma, daria oportunidade para pessoas apreciarem a cultura regional, pois não seria um espaço individual, mas coletivo, para todo mundo.

 --------------------------------------------------------------------------------------------------------