Por Icelindre Andrade
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Foi
em uma tarde de quarta feira, que tive a oportunidade de conversar com o artista
plástico, ator, cantor, DJ, apresentador de programa de rádio, professor de
artesanato da UATI, produtor de eventos, contador de histórias, skatista e juazeirense
nato, Jocélio Bello de Carvalho, conhecido também como “Jagunço Style”.
Confesso que fazer o perfil de um artista tão completo foi um desafio para mim.
A
conversa com o artista aconteceu na Rua Santo Antonio na casa de sua
mãe, onde ele mora desde que nasceu. Quando cheguei à casa do artista, fui
recebida por sua mãe que veio abrir a porta com um sorriso no rosto e pediu que
eu entrasse. Foi então que comecei uma conversa descontraída com Jocélio, no
ambiente tranqüilo da sua residência.
Sua
história com a arte começou aos 14 anos de idade, quando ele se interessou em
pintar camisas para skatistas. Foi nesse período que ele lançou a marca “Jagunço Style”, e começou a ganhar dinheiro com a confecção das camisas. A
partir daí, foi se aperfeiçoando nessa “coisa” do traço marcado.
Esse
libriano nascido em 21 de outubro de 1974 tem 37 anos e é o caçula entre Alina Maria Bello, Helder Bello e Paulo César de
Andrade que são seus três irmãos. Ele conta que é fascinado por música, esporte, cultura e arte. O seu trabalho
se baseia em combinar experiências visuais e sonoras, criando performances
audiovisuais e contextuais. Ele gosta de trabalhar com a arte do grafite e
agora é responsável pela produção de eventos de bandas e projetos ligados ao
esporte. Também atua hoje com adolescentes, idosos e normalmente em atividades
diárias, entre outras também artísticas.
Bastante
envolvido com projetos de arte para crianças e adolescentes, Jocélio falou que
sua infância foi no bairro Santo Antonio e foi bacana. Teve acesso a todos os
brinquedos que a “gurizada” brincava na década de 80, como rodar pião, brincar
de pega-pega. “Brincadeiras que hoje as crianças não fazem mais, pois tem essa
questão do mundo virtual que elas fazem parte na atualidade e antes se produzia
e brincava com o carrinho de lata, e fazia círculos e era bem legal, era uma
coisa bem mais ativa e bacana e marcou muito e é uma referência”.
Foto:
Icelindre Andrade
Na
conversa, percebi que o artista Jocélio tinha um olhar firme e concentrado no
chão. As mãos estavam muito inquietas e, algumas vezes, se entrelaçavam.
Durante quase toda a conversa, ele estava com as pernas cruzadas e sentado na
cadeira de uma mesa verde da sala de sua casa. O artista magrinho, usando short
jeans xadrez e camisa branca, sandálias havaianas e um boné preto, mostrava toda uma simplicidade do seu modo
alternativo de ser.
Jocélio
relatou como foi sua trajetória como artista. Ele começou a se destacar quando
fez uma banda nos anos 90 chamada Rappers Dura, e a partir daí começou a ser inserido
na cena baiana. Ficava com a banda em Juazeiro e viajava também para Salvador,
fazendo diversos shows. Durante esse intervalo, fez também teatro infantil,
onde chegou a participar de 12 espetáculos teatrais.
Com
sua arte urbana e bastante alternativa, Jocélio conta sobre sua admiração pelo artista Jean Michel Basquiat, por ter feito das ruas sua arte e é uma referência. Os seus traços não são parecidos com o dele, mas a influência
de sair das ruas e fazer a arte do jeito que ele acha que deve ser. Uma arte regional
misturado com a “coisa” do contemporâneo, com traços da cultura do grafite. Ele
diz que é muito ligado com a escrita, dessa “coisa” mais “Underground” de
produção. “Faça você mesmo, então é isso, tem essa “coisa” do regional e da
“coisa” nova que é a vertente do grafite, da arte plástica em geral", declara.
Sobre
a originalidade de sua arte, Jocélio diz que se considera um artista original,
porque leva isso da sua bagagem cultural, da família e pelos seus pais serem do
Pernambuco. A sua arte tem influência da cultura popular nordestina, como a música
de Luiz Gonzaga, o artesanato regional. Então, ele conta que o seu trabalho tem identidade
e quando o pessoal vê uma “carranca” já se lembram do seu trabalho. Hoje ele tem experimentado o trabalho da dona
Ana das Carrancas, do Paulo Queimado, O Guarani, representantes da arte
brasileira de fazer carrancas. Dessa forma, seu trabalho tem identidade com a
sua filosofia de vida, de filho de nordestino, mas com a cabeça no mundo.
Sua
vida é marcada pela arte e por desafios. Jocélio já trabalhou como ator com um
elenco bacana da Rede Globo, como o ator Marcos Suzano, no elenco do filme “Meteora”,
gravado no Salitre e que tem um registro bacana do artista juazeirense. Trabalhar com Leandro Mansur, Claudio Marzo e Paula Burlamaqui foi um desafio e, ao mesmo
tempo, uma experiência satisfatória, diz o artista Jocélio. Ao tempo que ia
relatando essa experiência, fazia questão de mostrar os álbuns fotográficos com
os registros mais importantes.
O
cotidiano do artista normalmente é dividido de segunda a terça feira para fazer
os seus trabalhos em casa, como pinturas, restauração e trabalhos com montagem
em tela. Nas quartas feira, faz um trabalho com a Universidade Aberta a
Terceira Idade; nas quintas-feira, trabalha no colégio Ruy Barbosa com os adolescentes
assistidos do projeto MAIS EDUCAÇÃO e nas sextas feira faz o programa Coletânea
das 9 às 10 da noite, na Rádio Transamérica Hits, desde o final dos anos 90.
Foto:
Icelindre Andrade
Proveniente
de religião católica, Jocélio diz que hoje acredita muito no espiritismo e ler
bastante sobre essa religião. Ele diz que a morte do seu pai em 2004 e do seu
avô foram fatos que marcaram bastante sua vida e acabou aprendendo a ler sobre
religião. Foi o espiritismo que o ajudou muito a confortar o seu coração e a
mostrar muita coisa legal, como ajudar o próximo e entender as pessoas, por
isso tem sete anos que Jocélio é adepto ao espiritismo. Quando perguntei o
significado da palavra “família” na vida de uma pessoa, o artista Jocélio diz
que é a formação. “É você conquistar o amor de outras pessoas. A família é o
conjunto dos valores e dos princípios morais da formação de um homem e se você
tiver base na família você é uma pessoa realizada na vida” finalizou a frase
com um olhar emocionado.
Para
Jocélio Bello, a sua maior contribuição para a arte regional foi ter colaborado
com o cenário musical local através do Rapperes Dura e também com produções,
trazendo bandas de fora para cá. Com o teatro infantil, deu sua parcela de contribuição
para essa garotada de hoje. Jocélio conta que Maria Clara Machado é do Teatro
Brasileiro e, através dessa influência, ele realizou alguns trabalhos para essa
juventude, por vim do trabalho com o teatro desde 1996, e assim Jocélio enfatizou
sobre a sua contribuição como artista Juazeirense e Nordestino onde o mesmo está
mostrando para a galera o que é arte, o que é musica.
Seu
hobby é andar de skate, porém relembra que já sofreu preconceito por
causa das roupas e acessórios que usava, pois ele diz que ter o cabelo e barba
grande nem sempre é encarado como esporte pelas pessoas, mas ressalta que foi,
graças ao skate, que se abriram portas para muitas coisas. E também confessou
que trabalhar com a arte, com pintura, com música na região do São Francisco
requer muita persistência e com a música principalmente, pois há barreiras principalmente
em Juazeiro. Já na cidade de Petrolina, o artista confessa que tem um maior
espaço para desenvolver o seu trabalho artístico.
Para
Jocélio, o maior desafio do artista é sobreviver da arte. Ele relembra que,
quando tinha sete anos de idade, viu um amigo dele que é artista plástico, pintando os desenhos da Walt Disney. Foi
então, que Jocélio falou assim: “pow eu quero fazer isso no meu futuro também”.
Então, desde criança ele já produzia, já desenhava personagens de quadrinhos para
vender na escola e foi produzindo até que começou a fazer cenário e fez o cenário
para TV. Assim, Jocélio foi marcando seu trabalho e hoje a TV Grande Rio tem um
cenário seu, TV São Francisco e Norte Rural também. O artista diz que esses
trabalhos foram muito importantes para seu desenvolvimento e qualificação como
profissional. Cada vez mais, ele procura se aperfeiçoar em cursos de
cenografia, pois gosta de fazer montagem e de instalação.
Em
meio à conversa, perguntei a Jocélio se ele se sentia uma pessoa realizada como
artista e como ser humano. Foi aí que ele respirou e ficou em
silêncio alguns segundos. Em seguida, respondeu que ainda não conseguiu montar
seu ateliê para trabalhar, mas que, graças a Deus, tem
sobrevivido com o seu trabalho e só por esse fato já se sente uma pessoa
recompensada, pois tem uma boa aceitação do público. O artista relatou que
recentemente esteve no Festival de Verão de Aracaju, com participação do Rappa, Seu Jorge, Charles Brow Jr, Mano Brow entre
outros. No mesmo evento Jocélio foi convidado para colocar a caixa de som na
Arena de esportes radicais. “Foi bastante legal por ser um “cara” do nordeste e
ter esse reconhecimento da galera de parte do Brasil isso já é uma grande
recompensa”, afirma.
Para
o futuro, o profissional sonha em ter um espaço maior para trabalhar com a sua
arte e com outros artistas também. Pretende trabalhar com meninos de rua e,
para isso, é necessário ter um ateliê. Seria uma cooperativa onde todos os
artistas teriam esse espaço para trabalhar com a música, artesanato entre
outras artes. Dessa forma, daria oportunidade para pessoas apreciarem a cultura
regional, pois não seria um espaço individual, mas coletivo, para todo mundo.
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