quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A beleza através do tempo

Por Aline Oliveira
        Ela é encantadora, nasceu na Itália, filha de mãe brasileira e pai italiano. Alegre e comunicativa vive com um sorriso estampado no rosto que cativa qualquer pessoa com seu jeito meigo. Em sua trajetória de vida relata um acontecimento que marcou muito. Foi o bombardeio, no ano de 1943, perto de Milão e próximo a sua casa.A Ítalia passava por uma grave crise economica no inicio da decada de 1930, com milhões de cidadãos sem emprego, e foi em meio a esses acontecimentos que ocorreu a segunda guerra mundal, este fato ficou registrado na memoria de dona Elena. Cursou faculdade de Química em Roma, no qual não fora concluído por causa do falecimento do seu pai, pois precisou trabalhar. Então, foi para Nova York, onde viveu por doze anos, trabalhando em uma Companhia, da qual ela nao lembra o nome, como secretaria. Alem do idioma referente ao seu país de origem, fala fluentemente a língua inglesa e um pouco do português, ainda misturado com o italiano.
 Com uma organização admirável, ela tem uma agenda onde mantém um controle sobre o que acontece ao seu redor, principalmente nomes de pessoas que a visita. O seu hobby é ler revistas, é uma maneira que ela encontra de se manter atualizada sobre o que está ocorrendo fora do ambiente onde ela vive. A italiana Elena Parati Spancz reside no Abrigo São Vicente de Paula, na cidade de Juazeiro Bahia. Neste local, mantem uma convivencia com vários idosos de maneira hamônica e solidaria, ela interage com qualquer um que se aproxime dela, é uma senhora muito gentil. em seu dormitorio divide o espaço com 12 companheiras.
Ao se apresentar para os outros, Elena faz questão de dizer que o nome dela é com E, e não com H, que é mais comum, porque, segundo ela,com E ele fica italiano.
Uma simplicidade que emociona e diverte quem está por perto, sejam os enfermeiros que cuida desses idosos, ou visitantes e voluntários. Elena pode estar conversando, super a vontade com alguém, mas se uma mosca pousa em qualquer parte corpo dela, ela fica agoniada, para de conversar e, enquanto alguém não se manifesta para abanar e tirar a mosca, ela não para de falar “Oh mosca, bye, mama mia”!

Com seus 81 anos de idade, pele clara, cabelos curtos e pintados de preto, Elena Spancz nasceu no dia 3 de Junho de 1929, e apesar de sua idade ainda se mostra bastante vaidosa, mas ela não se importa em engordar um pouquinho. Sua comida predileta aqui no Brasil é a feijoada. “Eu gosto de comer bem”, afirma. Quando morava na Itália, ela não deixava de saborear as pizzas.
 Elena Spancz antes de residir no abrigo, morava na capital de Pernambuco, em Recife, numa pensão. Não gosta de viver em cidade pequena, mas ela diz que não tem escolha.
É viúva, perdeu seu marido depois de 30 anos de casados. Ela considera que seu casamento foi ótimo, seu marido era húngaro, mas novo do que ela cinco anos. Descontraída ela brincava que achava que ela morreria primeiro,com o marido, apenas um filho, chamado Sergio Spancz, de 35 anos.
 Ao falar de seu filho Elena se mostra descontente com algumas atitudes dele. Ele não possui emprego fixo, uma posição social e depende de sua pensão, de 2.998 reais para manter-se. Então, ele paga o abrigo que ampara sua mãe e se sustenta. Ele não a visita com frequência, e observa que ele só vai lá uma vez ou outra, por causa de sua pensão.
Apesar de nao ter a companhia do filho, essa senhora está satisfeita com a vida Ela é feliz e se sente protegida onde está. Apesar de seu modo de vida no passado ter bem dinâmico, destacando-se suas viagens nacionais e internacionais,  Elena Spancz passa uma expressão de uma pessoa realizada no local pacato onde vive.

Eventos alternativos fortalecem o crescimento de Bandas de Garagem na região


Por Aline Oliveira
No Vale do São Francisco, o setor de música composto por jovens que se reúnem em locais alternativos para ensaiar e mostrar seu trabalho vem crescendo. Conhecidas como bandas de garagem, esses grupos têm que lutar para conseguir resultados positivos. A falta de recursos, o baixo valor recebido pelos shows realizados, que são insuficientes para manter a banda, comprar e renovar seus instrumentos, dificultam o desenvolvimento do trabalho dessas bandas.
   Segundo o produtor de bandas de garagem e que atualmente integra o grupo Crematorium, Junior Souza, “ninguém investe naquilo que as mídias não divulgam”. Para os artistas, o incentivo e apoio às bandas de garagem, que trazem para a sociedade a boa música e que se preocupam em transmitir para o público a realidade social, são importantes para o fortalecimento cultural na região.
De acordo com a Secretaria de Cultura de Petrolina, Roberta Duarte, os eventos e festivais são criados para dar oportunidade para esses grupos mostrarem seu talento. Contudo, o incentivo à cultura ainda tem dificuldade de se inserir em âmbito de nível municipal, estadual e federal. “A demanda hoje de grupos alternativos é muito grande na região, por isso há certa dificuldade em conseguir espaços adequados para a realização dessas atividades musicais”, afirma a superintendente.
O produtor de eventos de bandas locais e, integrante do programa Coletivo Coletânea, que tem o objetivo de divulgar o trabalho dessas bandas, Jocélio Belo, destaca que o que dificulta para as bandas alternativas expandirem seus trabalhos é a falta de apoio do poder público em inserir essas bandas na programação cultural da cidade. “A gente quer divulgar um produto novo, mas as bandas não têm apoio”, disse Jocélio.
O ex-gestor de cultura da Secretaria de Juazeiro, Beto Borges, hoje Secretário de Administração da Prefeitura, diz que o poder público apóia os grupos musicais de maneira material, por meio da contratação de palco, sistema de luz, de um som, e não financeira. “Nós não podemos pegar o dinheiro da Prefeitura e fazer contratações, temos procedimentos e regras a seguir”, esclarece.
 Para o gerente, o desenvolvimento de bandas independentes, tanto em Juazeiro quanto em Petrolina, é bastante reconhecidos, porque são grupos, com um estilo de música autoral e que não está enquadrado em produtos que dominam o mercado, como por exemplo, bandas que tem grandes recursos financeiros. “O importante é que essas bandas estejam disponíveis e aptas ao consumo no meio cultural, porque elas são resultadas de modos de fazer e das praticas sociais”, enfatiza ele.

Criada há três anos, a banda “Quinta Coluna” começou quando um grupo de amigos resolveu tocar coovers de bandas famosas e fazendo releituras de bandas nacionais no estilo deles e daí o grupo foi se desenvolvendo e hoje já gravou seu CD autoral.
A banda Quinta Coluna é um exemplo de parceira com a Universidade, especificamente, a do Estado da Bahia (UNEB). Segundo o produtor e integrante da banda, Bruno Souza, o grupo não recebe apoio cultural, mas existem iniciativas, como patrocínios de empresas privadas, os convites de universidades, que ajudam no crescimento do público para com a banda e, principalmente os festivais oferecidos na região. 

 Na medida em que surgem as oportunidades nos espaços públicos, o pessoal vai mostrando algo novo e de qualidade. Esse incentivo e apoio à produção de bandas contemplam o artista, e o público passa a reconhecer e valorizar seu trabalho.A criação de eventos independentes também é uma maneira das bandas de Garagem adquirir um reconhecimento no meio social. Junior Souza, que vem participando de produção de bandas há cinco anos, diz que, com a chegada dos grandes festivais na região, como “Raiz e Remix”, “Conexão vivo” e o “Umbuzada Sonora”, o público tem crescido. “É importante frisar as universidades da região, que trazem um número cada vez maior de pessoas que procuram a música e composições de qualidade na nossa região”, enfatizou Bruno Souza.



Os dilemas das manifestações culturais do Vale do São Francisco


Por Icelindre Andrade

Você já ouviu falar em Samba de Véio, grupo de samba do Rodeadouro, de Juazeiro, que valoriza a cultura Afro? E o grupo dos Congos, que conserva o culto à Nossa Senhora do Rosário,  santa que representa uma tradição de fé que une o povo negro em diferentes regiões do Brasil. Essas são algumas das manifestações culturais que, ao longo da trajetória, têm enriquecido a cultura da região do Vale do São Francisco, embora tenham grandes dificuldades para se manter.
Recentemente, grupos como a banda “Apocalypse Reggae”, de Petrolina, e o grupo de “Hip-Hop” de Juazeiro, têm se destacado na valorização da cultura, embora com dificuldades de se apresentar periodicamente por falta de apoio e incentivo das Secretaria de Cultura.
Segundo o líder dos Congos, José Pereira Filho, mais conhecido como “Govéio”, o grupo se apresenta em diversos locais da cidade de Juazeiro e em algumas localidades do interior, como em Poço de Fora – Curaçá, na Lagoa do Salitre, na Ilha do Massangano, em Itamotinga e Carnaíba do Sertão. Porém, as dificuldades são bem maiores para o grupo se deslocar para o interior, pois necessitam do transporte, passagens, alimentação e ainda  de verbas para comprar as roupas, os sapatos e os instrumentos. A maioria dos integrantes do grupo dos “Congos” não tem a condição financeira suficiente, necessitando de recursos públicos. O líder do grupo acrescenta ainda que eles só prosseguem nessa luta, porque existe a fé e a missão de não deixar essa manifestação cultural acabar.
            A partir da liderança de Govéi, os congos de Juazeiro-Ba formam um grupo cultural marcadamente religioso, essa religiosidade esta fortemente expressa através da saída dos congos no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário e no dia de finados para visita ao cemitério da cidade. Os congos estão reavivando os vínculos identitários que os distinguem enquanto grupo diferenciado, pois a sua prática constitui-se enquanto prática simbólica diferenciada das outras que aconteciam paralelamente no dia de finados, no cemitério de Juazeiro-Ba.A existência desse tipo de religiosidade em muitos lugares do Brasil e especialmente neste caso é, certamente, uma herança das tradições africanas, cuja religiosidade e visão de mundo cultiva uma relação viva com os antepassados.
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 Outra manifestação cultural que contribui com a construção de uma identidade é o grupo do Samba de “Veio”, do Rodeadouro em Juazeiro. Eles permanecem até os dias atuais e o seu resgate cultural é algo que os moradores estão exercitando e buscando preservar de diversas formas, tendo em vista que muitas são as dificuldades para permanência das pessoas no grupo. O Samba de “Veio” fincou suas raízes ao final da escravidão, e a palavra “samba” na língua dos escravos que chegaram ao Brasil, significa “umbigada”. Essa tradição ressurgiu há muito tempo na comunidade do Rodeadouro em Juazeiro, pois foi lá que ocorreram às iniciais manifestações. 
Atualmente, a dona Maria Perpetua Batista Miranda é quem preside o grupo de samba de “veio” do Rodeadouro. Ela ressalta os locais que o samba de “veio’ já se apresentou, como no Salitre, na Lagoa do Sabiá, em Juremal, em bairros como Quidé, Tancredo Neves, e em locais como no Caíque, no Centro de Cultura João Gilberto, e com mais freqüências em Escolas e algumas universidades regionais, a exemplo da Universidade do Estado da Bahia. Ela enfatiza sobre as dificuldades de se apresentarem principalmente no interior, como o custo com as passagens, com as roupas e alimentação. Muitas vezes, os próprios integrantes do grupo pagam as passagens. Ela diz que uma das estratégias para conseguir preservar essa tradição é fazer bingos e solicitar a ajuda dos moradores, para poderem adquirir as roupas, os sapatos e os instrumentos.
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Se destacando bastante no cenário cultural, existe atualmente em Juazeiro um grupo que vem resgatando a cultura do Hip-Hop. O líder desse grupo se chama Eurivalter Cubertino da Rocha Filho, mais conhecido como “Euri Mania”.  Ele foi o idealizador desse grupo de Hip-Hop, que atualmente tem entre 18 e 25 integrantes e vai completar três anos de existência que se reúnem para dançar. O grupo se apresenta com freqüência aos sábados e aos domingos na “Lagoa de Calú”, em Juazeiro, e diversas vezes são convidados a se apresentarem em escolas, faculdades, festas e em campeonatos.  Euri Mania destacou algumas localidades que o seu grupo já se apresentou, como no Mandacaru, em Sobradinho, em Carnaíba do Sertão, e cidades como Exú no Pernambuco e Juazeiro do Norte no Ceara, tendo vista que o mesmo já participou de alguns campeonatos interestaduais.
 O artista Euri Mania diz que o Hip-Hop é um esporte derivado da dança. O objetivo principal do grupo é utilizar uma área acessível e fazer jovens que em suas horas livres possam se envolver com essa cultura, e treinar para ficar a nível nacional. Porém, quando surge a oportunidade de apresentarem-se no interior, na maioria das vezes os próprios integrantes do grupo, precisam disponibilizar o dinheiro para cobrir as passagens e os custos com a alimentação. Eles contam também com a ajuda da família, pois somente dessa forma tendo força e coragem é que continuam resgatando essa cultura.
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 As manifestações culturais da região tem tido dificuldades em se manter. Beto Borges, ex-gestor da Secretaria de Cultura de Juazeiro e atualmente ocupando a Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal, esclarece que a prefeitura tem apoiado de várias formas os diversos grupos culturais da região, visto que ela é uma manifestação existencial das pessoas. Ele acrescentou que existem limitações, mas é oferecido o apoio de outras maneiras com o transporte, alimentação e não necessariamente com o cachê, pois existem solicitações pendentes da Secretaria de Cultura. 
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      Mais conhecido como Tio Zé Bá, o vocalista Maércio José da banda Apocalypse Reggae, tem um enfoque musical voltado para o estilo reggae, que tem identificação com a matriz africana. Segundo ele, as apresentações no interior dos municípios de Petrolina e Juazeiro não acontecem com freqüências, pois no interior são mais difíceis pela questão logística, pois geralmente precisam levar o som, os equipamentos, a estrutura, os músicos e etc.

 Segundo o artista, ele diz que falta uma política por parte da Secretaria de Cultura de Petrolina, pois se não existir essa política não tem como organizar o processo, "uma política de cultura não é apenas o evento, é um investimento no dia a dia, em atividades culturais, em capacitação, em manutenção de espaços culturais com leis de incentivos a cultura". Então, é preciso existir um plano de política de cultura para ter uma efetivação concreta, finalizou o artista.
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 A Secretaria de  Turismo e Cultura de Petrolina, Roberta Duarte, diz que o apoio que a prefeitura de Petrolina tem dado ao grupo de samba de “Veio” da Ilha do Massangano ocorre  dentro das possibilidades, porém a equipe é pequena e nem sempre conseguem dar conta de tudo. Ela ressaltou que tem a criação de uma lei na Câmera de Vereadores de Petrolina, com intenção de fazer trabalhos específicos em relação à cultura Afro Brasileira.
 Roberta Duarte enfatiza que no Conselho Municipal de Cultura existem pessoas representando a zona rural e há uma ideia, pois se sabe que devemos cada vez mais está perto da zona rural dessa cultura e estar difundindo a cultura do centro urbano de um determinado setor para outro. 
Sendo assim, a região do Vale do São Francisco tem sua representabilidade cultural manifestada de inúmeras formas, e dessa maneira enriquece a cidade de Petrolina e Juazeiro com suas características. Porém, são evidentes os inúmeros problemas enfrentados por aqueles artistas que tentam preservar essas manifestações, pois existem dificuldades para estabelecer uma política pública incisiva e enfática na execução das demandas. Contudo, algumas lideranças culturais vêm buscando cada vez mais o apoio dos dirigentes que são responsáveis  por fomentar a cultura no Vale do São Francisco. .


Colhendo frutos de uma trajetória

Por Roseli Santos
Nascido em 20 de Janeiro, em Santa Maria da Boa Vista em Pernambuco, veio ainda  criança para Petrolina(PE) estudar,  fez a formação básica  no colégio de freiras, já o ensino médio   no  Colégio Eduardo Coelho seguindo anos depois a fazer sua primeira faculdade, onde cursou história na UPE. Com uma personalidade irreverente, simpático, olhar simples, dono de um carisma singular e com um currículo profissional admirável, José Sebastião da Silva Menezes,  recebe da vida hoje, respostas de projetos e persistências de uma vida dedicada a trabalho e aos estudos e a família.
Desde criança  que já tinha afinidade com o jornalismo.  Ele fala que quando  pequeno gostava de  ficar observando no rádio, a programação para dizer, para os trabalhadores, da roça( onde morou por algum tempo) o momento desses  almoçarem, repetindo para os funcionários  o jargão do repórter do rádio  que dizia.“ olha a hora”  nesse momento  os trabalhadores já sabia que ele estava avisando    para eles deixarem  o serviço.
Já com  14 anos pensava em ser sociólogo, pois gostava de trabalhar com pessoas, mas na região do Vale do São Francisco não tinha esse curso. Assim, apaixonado por áreas de Ciências Humanas encontrou  no curso de História algo que se assemelhava com o que ele procurava, mas não parou. Foi no Jornalismo que diz ter encontrado  a realização de um sonho de infância. Com 22  anos  estagiava   Rádio emissora rural onde durante  seis anos, teve  um envolvimento direto com a comunicação  atuando, na área de repórter, comentarista esportivo e redator
 J.Menezes como é conhecido, hoje, dispõe de um currículo profissão satisfatório atuando nas áreas de   jornalista,professor de História, especialista em Ensino de Comunicação Social,  Trabalhou  na emissora Rural de Petrolina, no Sindicato dos Radialistas de Pernambuco, Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Petrolina, na TV São Francisco de Juazeiro. Atualmente é  editor executivo e repórter da Revista Vitrine  além de atuar como repórter, e organizador  no Conselho Editorial da Revista Contexto (Secretaria Municipal de Educação). Ainda Integra o Movimento Independente Petrolina Literária e foi Professor Substituto na Universidade do Estado da Bahia(UNEB), nas disciplinas Mídia e Cultura,Crítica da Mídia Telejornalismo, Comunicação Comunitária e Movimentos Sociais.
No campo profissional se define como uma pessoa que procura fazer seu trabalho  de maneira responsável e compromissada, dizendo que suas conquistas foram frutos de sonhos, persistência. Em relação aos projetos que realizou,  um dos que se orgulha, foi no momento em que trabalhava com  televisão, onde considera o local que obteve o maior número de trabalhos com  repercussão  nacional. Nessa época era  chefe de redação, na TV São Francisco, afiliada rede globo, sobre sua liderança,  diz ser muito complexo coordenar equipe, pois o cargo exige uma a postura, ética, moral profissional e técnico de qualidade. E comenta que a cooperação, sensibilidade, sabedoria e para  resolver crises é muito valido para o sucesso profissional nessa área e  considera que em sua época realizou um bom trabalho. “Consegui unir o grupo em torno dos projetos que organizei”. Apesar de confessar  ter cometido alguns erros, que diz ter  ajudado em seu aprendizado. Ele reforça que um líder não deve ser muito vulnerável e deve ter uma sensibilidade equilibrada, pois um chefe necessita ter um  bom equilíbrio emocional. "Liderar é uma arte inserida com coragem, visão de futuro e muito equilíbrio”finaliza.

Omar (BABÁ) Um grande homem em poucas letras

Por Ladjane Davi

A definição de seu nome encontrada na parede de seu quarto retrata genuinamente a personalidade do nosso perfilado. “Nome de origem árabe, que significa próspero, de grande coração. A maioria das pessoas o acha fascinante. Nunca perde as esperanças, positivo e forte ante a adversidade, compassivo com todos. Seu otimismo supera qualquer obstáculo, seu ânimo se mantém sempre estável. Que seja eterno”.
Essa interpretação feita para seu nome consegue vislumbrar uma de suas maiores qualidades, a humildade, facilmente perceptível nos primeiros momentos de conversa. Seu estilo bem hospitaleiro e cordial, agradável em servir e poder ser útil no que for preciso, sempre com um ótimo senso de humor mesclado a um vocabulário preciso e amplo, nos faz confirmar cada adjetivo destinado às poucas, porem fortes, letras da palavra OMAR.
A conversa começa com um clima um pouco retraído e singelo, diante da infinidade de questionamentos que poderiam ser extraído daquela conversa. Porém, com uma rápida auto-definição do nosso personagem, percebemos que seu bem mais precioso não é apenas suas memórias e experiências, mas os seus valores como ser humano que busca diariamente se aperfeiçoar ética e moralmente sob a ótica da política. Foi através deste instrumento, que ele começou a ter suas primeiras visões críticas sobre a sociedade e suas disparidades.
Omar Dias Torres, conhecido como Babá, porque seu irmão mais novo quando bebê não conseguia pronunciar seu nome e assim o chamava, é o seu apelido mais conhecido e carinhoso. Nasceu em Curaçá, “minúscula cidade do sertão baiano, sede de um município espremido entre o Rio São Francisco e vastidão das caatingas sujeitas ao flagelo da seca”. Ele, Sexto filho dos onze de seu pai, Durval Santos Torres, com sua mãe, Elzita Dias Torres. Seu pai foi funcionário público da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, um homem “extremamente honesto, desprendido, bondoso, sensato, corajoso e com forte senso de justiça.” Foi a grande figura inspiradora para Omar por trilhar uma trajetória de vida que defendia seus ideais, incentivando as posteriores atitudes do filho.
Mais tarde seu pai sofreria perseguições violentas que o obrigaria a fazer 26 remoções para diferentes cidades e regiões da Bahia. Conseguiu posteriormente se fixar, através de mandatos eletivos, na cidade de Curaçá onde foi Presidente da Câmara do Vereadores e substituto do prefeito (“Na época não havia o cargo do vice-prefeito, nem vereador tinha salário”). Sua mãe descendente de índios de Sento-Sé é definida por ele como “muito valente e impulsiva, também muito solidária e caridosa e avessa à injustiças”.
Desde bem menino Omar, já se apresentava como um bom ouvinte, característica imprescindível dos grandes líderes, demonstrando interesse pelas conversas dos mais velhos, dando especial atenção para as histórias de Lampião que teve marcante passagem pelo seu município e a quem ele tem profunda admiração pelo seu poder de chefia. Ainda na escola primária, teve um despertar voluntário pela leitura, lendo livros desde os temáticos para sua idade, até os avançados sobre política e história geral, o que o proporcionou uma boa leitura e escrita garantindo-lhe hábitos que mantêm até os dias de hoje.
Lembra que nessa época ganhou de um padre americano um livro intitulado “Mestres dos Embustes”, escrito por Edgar Hoover (soube anos depois que era diretor da CIA), que fazia contundentes críticas às sociedades comunistas. Recorda que detestou o livro e que o fez se interessar por aquele outro mundo citado. Outro livro que o marcou bastante foi emprestado por um advogado de Senhor do Bonfim, que fora atuar num júri em Curaçá, Rafael Bartilotti, com o título de “O acrobata pede desculpas e cai”, do escritor ateu Fausto Woolf. Conheceu também nessa época a literatura de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Monteiro Lobato.
 Ao ler livros comunistas que pregavam a solidariedade, o não acúmulo de bens e por receber bastante influência de seu pai,  envolvido com a política esquerdista de sua cidade, Babá construiu seu senso critico e um anseio transformador para combater as desigualdades sociais as quais ele mesmo presenciou com sua convivência com garotos mais pobres. A população de duas mil pessoas de Curaçá na sua fase de menino era “mais ou menos nivelada por baixo”. A convivência fraterna e muito próxima encobria os desequilíbrios, dando-lhe a sensação de não haver muita distância ou diferenças entre os menos ou mais favorecidos economicamente. O próprio processo educativo apresentado na sua infância, oriundo não apenas da escola, mas das brincadeiras e contatos com meninos mais pobres lhe serviram de base para que ele vivenciasse a não existência de diferenciação entre as pessoas, sendo isso uma idéia imposta pela sociedade burguesa.
 Quando completou 10 anos de idade acontecia no cenário internacional o triunfo da Revolução Cubana, idealizada e concretizada por revolucionários, sendo um fato bastante marcante na vida de todos os jovens, principalmente daquele menino precocemente engajado. Ele buscou acompanhar as notícias sobre revolução que tinha um caráter comunista e pregava uma visão critica sobre o sistema vigente, sendo, portanto, uma alternativa a sociedade em que vivia. Buscou ler livros sobre a recente vitória dos revolucionários e ouvia os constantes comentários sobre a marcha da Coluna e seu líder, o lendário comunista, Luis Carlos Prestes, para quem seu pai conseguiu expressiva votação para senador na década de quarenta. Com onze anos, já participava das atividades políticas de seu pai, compartilhando de suas ideais. Foi nesse momento que foi plantada a semente das duvidas e dos questionamentos que iriam nortear sua conduta de vida durante toda sua trajetória. Foi ali que nasceu o interesse pelo ideal comunista.
Posteriormente, no ginasial, meados da década de 60, entrando na juventude foi estudar em Salvador levado pelo irmão mais velho. Lá teve a oportunidade de conhecer diferentes pessoas, ampliando suas possibilidades de conhecimentos e contatos, sedimentando ainda mais suas convicções políticas. Foi percebendo que a política seria um instrumento imprescindível para pôr em prática todos os seus anseios. Esse período foi fundamental na construção de seu ideal de causa, que se transformaria na linha mestre de sua vida.
Em 1964, aos 15 anos, ocorreu o golpe militar e este momento tornou-se para ele um período de grande tristeza. Nesse minuto, Babá muda a expressão, mostrando um olhar mais brilhante que denunciava seu nostálgico descontentamento com os acontecimentos da época. Era um grande admirador do presidente João Goulart que lutava pela implantação de mudanças e reformas na sociedade que ia na mesma direção dos sonhos de Babá. Havia uma identificação natural com o governo em questão, pois era composto por movimentos sociais muito organizados, por partidos comunistas bastante ativos, e por lideranças como Miguel Arraes, Leonel Brizola, personalidades que atuavam na política nacional e pelo qual ele tinha grande apreciação. O golpe militar trouxe com ela a repressão que dificultando a articulação dessa organização, matando lideranças populares, impedindo toda essa condição de luta por uma sociedade igualitária.
            -“Foi um erro a luta armada contra a ditadura, mas deveria ter sido feita com mais cautela diante das disparidades de forças entre os oponentes, no qual reacionários sem armas, sem apoio populacional combatia um regime forte e de grandes bases aliadas. Era uma desigualdade impossível de dar certo, pois o envolvimento emocional e ideológico ofuscava o perigo que acabaram com desfechos bastante trágicos”.
Nesse período, seu irmão, com quem morava, mudou-se para o Rio de Janeiro, momento em que foi servir ao Exercito, porém com grande empatia e o desejo de se engajar na luta. Durante sua jornada, encontrou pessoas que lutavam contra o regime militar, no qual a vida se encarregou de aproximá-lo, sempre consciente dos riscos e da certeza de seus ideais. Foi um período em que apoiou as instituições que lutavam contra a Ditadura como a imprensa alternativa, o Pasquim, que servia como uma válvula de escape para ele e seus companheiros. E ficaram nessa luta até quando veio à anistia, período em que já estava morando de volta no interior da Bahia. 
Durante a anistia houve a volta de lideranças que estavam exiladas do Brasil, entre elas Valdir Pires França que tinha sido Procurador Geral da República no período do golpe. Nessa época, o país vivia o bipartidarismo, dividido em Arena e MDB, procurou-se engajar com este último partido onde ele iniciou todo um trabalho político de reorganização no início da década de 80. Teve a oportunidade de conhecer Valdir, grande amigo de seu pai que o procurou no período da anistia.  Babá o conheceu e iniciou-se uma grande amizade que perdura até hoje. A partir daí, com essa nova aliança, retomou um trabalho político no interior da Bahia e regiões circunvizinhas. Para ele, Valdir representa “um ícone da política, uma figura mito no cenário publico da época. 
Fundou com seus amigos e sua esposa, Antonieta, o jornal Asa Branca em Curaçá, cidade que era administrada por uma “oligarquia de direita carlista” ligada a Antônio Carlos Magalhães (ACM). Com este jornal ele começou um trabalho juntamente com o povo no sentido de organizar e esclarecer a população os fatos contemporâneos. Porém, o impresso não tinha o alcance que desejava, pois uma grande parcela da população da região era analfabeta. Foi ai que decidiu mudar a estratégia para atingir um maior número de pessoas, através do rádio, realizando um jornal falado. Foi quando pode informar e ter uma boa aceitação.
Em 1983, iniciou um programa na emissora Rural, de maior audiência na época, chamado Nossa Presença, com duração de 1 hora que ia ao ar nos sábados, fazendo os resumos dos fatos da semana. O foco principal do programa era ser um agente formador de opinião, uma espécie de escola política. Os assuntos abordados não se limitavam apenas aos fatos políticos da região, como também aos atos administrativos do país inteiro, através de uma linguagem acessível ao povo. E embora fossem nacionais poderiam refletir na vida e no cotidiano da população local. O programa alcançou muito prestigio no Nordeste, atingindo um grande numero de ouvintes nos estados da Bahia, Sergipe, Piauí e Pernambuco. Devido à falta de liberdade de expressão, imposta pelo regime militar, não havia organização da categoria do jornalista. Foi quando Babá ajudou a trazer a Associação Baiana de Imprensa, na cidade de Juazeiro, participando de todo seu processo de organização e estruturação. Foi membro da primeira diretoria provisória responsável pela organização e criação do Sindicato do Jornalista e Radialista na cidade, mostrando sua coragem e ousadia em organizar entidades sindicais na época.
Em 1986, seu amigo Valdir foi eleito governador do estado da Bahia, derrotando ACM numa “eleição memorável com mais de dois milhões de votos de frente”. Nesse momento, Babá foi chamado a trabalhar no cargo de Assessoria do Governo para a região do interior do estado. Passou a dirigir em Juazeiro e lago de Sobradinho, a Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional (CADR), um órgão coordenador da secretaria de planejamento, que articulava com todos os outros órgãos do governo.
Toda essa movimentação fez com que em 1988 seu nome fosse escolhido como candidato à prefeitura de Curaçá, com uma campanha marcada pela ampla participação do povo, porem não teve sucesso, perdendo por uma margem pequena de votos. Esse fato foi devido a uma considerável interferência do poder judiciário através de ACM que, apesar de não ser mais governador da Bahia, ainda detinha grande influência e atuação nas questões políticas do estado. Além disso, houve uma forte contribuição financeira da CHESF que, na época, era responsável pela construção da barragem de Itaparica.
Devido essa obra, milhares de famílias foram removidas da região que seria alagada e assentadas em 16 agrovilas, sendo 14 no município de Curaçá e duas no de Abaré. Babá abraçou a causa dessas famílias, pois todo esse processo foi feito de forma desrespeitosa e ao arrepio da lei. Com isso, José Carlos Aleluia, presidente da CHESF, sabendo dos riscos de um candidato comunista no poder ligado à população pobre e oprimida, interferiu financeiramente na campanha de Babá, contribuindo para sua derrota. Porém, depois disso foi plantada a semente de conscientização na cidade, que nas eleições futuras elegeriam prefeitos de oposição.
Apesar do descontentamento, ele continuou participando da vida pública na Bahia ativamente e sempre ligando-se a pessoas que tinham uma história política de luta e reação à ditadura. Apoiou Jaques Wagner, que também participou da luta política e hoje está no segundo mandato no governo do estado da Bahia. No período da ditadura, devido ao receio de reagir ao sistema, os poucos políticos que tinham essa coragem se apoiavam em diferentes regiões. Por isso Babá não apenas era visto como um político apenas na Bahia, mas num raio de atuação muito maior. Isso fez com que, mais recentemente, em 2006, depois da eleição de Eduardo Campos para o governo de Pernambuco, o então prefeito de Petrolina o convidasse para ser Chefe de Gabinete e secretário de outras pastas na prefeitura da cidade.
Com as mudanças políticas, advindas do fim da ditadura, muitos de suas redes de contatos chegaram a cargos políticos importantes no cenário nacional, a exemplo do ex-presidente Lula, com quem tem amizade desde a época em que era candidato nas caravanas de cidadania. Essa gama de conhecimento o influencia até hoje, pois possui mais oportunidade para contribuir discreta e anonimamente em prol da população. Apesar de não ter mais interesse em se candidatar para cargos eleitorais, Babá prefere a política de articulação e aproximação dos políticos aos movimentos populares. Uma atuação que ele considera discreta, porem importante, para manter ativa a continuidade de luta pela sua causa maior, que permanece a mesma desde o inicio de sua militância. “É necessária a manutenção da luta pelo povo, pois o sistema capitalista, onde impera o individualismo, o hedonismo e materialismo, sucumbiu à disposição e a iniciativa de políticos que hoje se encontram no cenário publico pela causa dos menos favorecidos”.
O distanciamento da linha de frente da política para Babá ocorreu em parte por discordar do sistema de campanha eleitoral, pois não consegue se visualizar sendo complacente. O suporte financeiro de empresários e os recursos do próprio governo para o apoio de candidatos que repercutem, posteriormente, na obrigatoriedade de retorno econômico pelo prévio beneficiamento, é visto por ele como contraditório aos seus princípios. Conhecendo esses mecanismos, preferiu deixar de ser protagonista dos jogos políticos lutando contra os poderosos e passou a ser coadjuvante na articulação de sua causa.
            Seu descontentamento é visível sobre o posicionamento de representantes públicos, com relação a sua forma de ver e agir politicamente, que não mais enxergam os anseios coletivos, numa amnésia com os militantes antepassados que deram sua vida por uma causa social, e hoje não interferem humanamente na sua forma de governar. Babá encontrou forças na continuidade de defesa de suas convicções na maçonaria, uma instituição secular existente em todo o mundo que inspirou grandes personalidades pertencentes a movimentos libertadores. Para ele os princípios da maçonaria o inspiram até hoje, pois encontra dentro da instituição o apoio para continuar sua causa, sendo uma fonte de alimentação para perseguir um mundo mais humano que, mesmo que não chegue a visualizar, acredita que irá se concretizar nas gerações futuras.
            Ao ser questionado sobre momentos inesquecíveis de sua vida ele relata com grande orgulho:

-“ Pla importância que foi para mim, conhecer Cuba profundamente e lá merecer o privilégio de ver por duas vezes o grande líder Fidel Castro, assistir Pablo Milanes ao lado de Gabriel Garcia Marquez e ser companheiro e amigo do compositor/cantor Taiguara, ídolo da juventude engajada brasileira na década de sessenta e setenta”.

E instigando ainda mais sua reflexão e nostalgia quando problematizado sobre o que poderia fazer diferente e ao recordar toda sua trajetória, ele relata que faria tudo novamente. Que poderia fazer de outra forma, olharia mais amplamente a situação, o seu extremo grau de envolvimento e paixão pela causa que lutava nessa época escura de nossa história. E hoje com toda sua maturidade e experiência relata com entusiasmo que, mesmo olhando para trás, diria e cantaria (com ótima afinação e sentimentalismo de quando cantou para mim) os versos de Gonzaguinha...: “Começaria tudo outra vez”.