domingo, 4 de março de 2012

Vale do São Francisco: um celeiro de vários povos

Por Ladjane Davi
Petrolina era um corredor para viajantes do Norte em direção à Bahia e demais estados, servindo como ponto de convergência para a travessia do São Francisco, tornando-se mais tarde sede de um pequeno número de moradores. Só tornou-se município autônomo no final do século XIX, já apresentando características de cidade vitrine para diversas pessoas que por ali passavam.
Atualmente a região representa um dos maiores pólos de agropecuária moderna do país, vêm atraído os interesses de empresário do ramo do mundo inteiro, ostentando o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, de acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)t. Na última década, houve um aumento de 34,5% na ultima década, com uma população estimada de 299 mil habitantes em 2011, segundo o Censo 2010. Desse total, cerca de 75% dos moradores da cidade são provenientes de pessoas não nascidas em Petrolina, de acordo com o ultimo Programa Plurianual (PPA) realizado há dois anos.
 Isso deve-se a uma soma de fatores favoráveis como suas características naturais, com temperaturas elevadas o ano todo, pouca pluviosidade e as condições de solo e umidade, representam um cenário ideal para produção de frutos de alta qualidade. “Essas condições positivas fizeram o município receber muitos incentivos a produtividade e o emprego de técnicas avançadas de agricultura, atraindo mão-de-obra especializadas” relata Geraldo Junior, diretor presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA)
A chilena Luz Marina Bleichvel, consultora em produtos para exportação, mudou-se para Petrolina em meados de 1992 quando foi contratada por uma empresa da região para implantação de Tecnologia de Pós-Colheita, um conhecimento inovador na época. Assim como ela, muitos trabalhadores e proprietários rurais se estabeleceram na região a fim de investir na fruticultura irrigada, contribuindo para transformar Petrolina no segundo maior centro vinícola do país
A infra-estrutura da cidade, como um sistema de transporte aeroviário eficiente e com serviços alfandegários para exportação da produção é um fator de atração para a implantação da produção agrícola e seu escoamento e conseqüentemente a fixação da mão de obra utilizada. “A região do Vale do Francisco ofereceu para mim a primeira oportunidade de atuação concreta de minha profissão, possibilidade de aprendizado e, acima de tudo, condições favoráveis para minha estabilidade financeira. Moro em Petrolina há 13 anos, desde quando me mudei do interior do Rio Grande do Sul, constitui família e minha propriedade rural não estaria melhor se não fosse localizada à beira do Rio do São Francisco”. relata o produtor de uvas, Ricardo Capellaro.
Além de produtores e trabalhadores rurais, grande parcela dos migrantes é formada por estudantes e professores de outros estados atraídos pelo crescimento do pólo educacional no Vale do São Francisco, que movimenta a economia da região. Orlando Laitano, professor da Universidade do Vale do são Francisco (UNIVASF), mudou-se da capital do Paraná para Petrolina, após ter sido aprovado num concurso para lecionar na Instituição. “No início foi muito difícil me adaptar a cidade, devido clima bastante quente e algumas dificuldades que encontrei para me estabelecer na cidade, como o alto custo de vida, além da deficiência em alguns serviços. Mas hoje considero uma cidade agradável, com uma cultura diversificada e rica em desenvolver novas atividades, o que é totalmente favorável para meu desenvolvimento profissional e pessoal”, declara.
Apesar de a cidade ainda não ter se ajustado totalmente ao ritmo de crescimento que vem passando, a região oferece uma infra-estrutura bastante ampla e diversificada que a assemelha aos grandes centros urbanos, apresentando desde aeroporto, shopping, comércio dinâmico, espaço para lazer e atividades físicas (como parques e orla), uma rede de gastronomia variada, além de uma culinária com características regionais, podendo agradar aos paladares mais exigentes. Luz Marina relata que “Petrolina e Juazeiro oferecem toda uma estrutura necessária  para uma vida confortável no plano pessoal e de trabalho. Hoje tenho minha empresa em Juazeiro, moro em Petrolina e não tenho planos de mudar para outra região ou voltar para meu país. Gosto muito de morar no Vale e não troco por nada a tranqüilidade que ainda temos por aqui, diferente das capitais”, relata a chilena.  
Já seu Joaquim José, trabalhador rural, não visualiza a região como um local tão atraente para se morar. Ele mudou-se de sua cidade do interior do Piauí, São Raimundo Nonato, devido à oferta de trabalho numa vinícola da região e reclama de falta de serviços básicos, como transporte, saúde, relatando serem bastante precários para aqueles que dependem de serviços públicos, além da moradia ser bastante cara, no qual paga aluguel de R$ 300, cujo valor compromete bastante seus dois salário mínimos. “Quando me mudei para Petrolina estava desempregado, e apesar de conseguir o serviço que queria, hoje sofro quando preciso de uma consulta medica, de um exame. Ainda tenho dificuldades no minha ida para o trabalho, já que moro num bairro afastado, pois aluguel no Centro é muito caro”.
Seja por motivos econômicos, por anseios profissionais ou pela busca de uma melhor qualidade de vida longe das grandes capitais, pessoas de diversos lugares do país e do mundo foram e são atraídos para o Vale do São Francisco. Apesar das dificuldades e deficiências que encontram nas cidades, eles estabeleceram suas residências, consolidaram-se profissionalmente, constituíram família e contribuíram na formação da história da região, transformando o Vale num celeiro de diversos povos e culturas, com anseios e conquistas variadas, mas com um ponto em comum, o Rio São Francisco como cenário de sua nova moradia.

A Preservação Ambiental Nas Ilhas Fluviais de Petrolina - PE

 Por Gilka Oliveira

As ilhas fluviais do rio São Francisco entre Juazeiro e Petrolina são uma alternativa de lazer e trabalho para muitas pessoas, principalmente nos finais de semana e feriados. Todavia, a preocupação em preservá-las conscientemente, muitas vezes não constitui a realidade.
As ilhas do São Francisco são áreas de preservação permanente (APPs), sendo locais que limitam constitucionalmente o direito à propriedade, muito embora isso não inviabilize totalmente sua ocupação, já que deve respeitar critérios legais pertinentes à preservação de seus recursos naturais.
De modo geral, a  ação antrópica de ocupação das margens do rio é mais intensa no lado de Juazeiro se comparada a Petrolina, não obedecendo nenhum critério estabelecido pelo Código Florestal (lei 4.771/65) para proteção de APPs do rio e não oferece qualquer segurança à população em caso de evento climático catastrófico, expondo aos riscos em caso de inundação.
A lei estabelece que a faixa de preservação permanente mínima para o trecho do rio onde está localizado o Country Club deveria ser de 500 metros de largura, porém o município tem permitido a ocupação extensiva dessa faixa territorial, assim o Country Club e a ilha atrás dele estão em sua totalidade situados em uma APP do rio São Francisco, sendo a distância da entrada do clube até a margem do rio estimada em 160 metros, constituindo-se em uma construção ilegal, tanto do clube quanto do parque localizado na “Ilha Bella”, nome adotado para a referida ilha próxima ao clube. Outra questão ilegal é a construção de uma ponte metálica que liga a ilha e o clube, inviabilizando a navegação do rio naquele trecho.
Ao final da primeira etapa de ampliação da ponte Presidente Dutra, foram feitas denúncias de que a empresa responsável pela obra havia deixado canteiros de obras e restos de materiais na Ilha do Fogo, localizada no meio da ponte, tendo sido retirados após notificação realizada pelo IBAMA. 
Entre os vários problemas relativos à preservação das ilhas estão o aumento significativo de construções, a criação extensiva de animais, o desmatamento, as queimadas e o acúmulo de lixo. Para o chefe do Escritório Regional do IBAMA em Juazeiro, Juraci Lima, mesmo com a coleta do lixo realizada pela prefeitura, duas vezes por semana na Ilha do Rodeadouro, ninguém pode garantir que parte do lixo produzido nas ilhas não vá parar dentro do rio. Embora o Ministério Público já tenha estipulado um limite para a colocação das cadeiras e mesas com relação à margem do rio, aos poucos as pessoas vão instalando cadeiras dentro do rio e consumindo vários produtos nestes locais, podendo deixar latinhas ou restos de produtos alimentícios caírem dentro do rio e aos poucos irem parar no fundo do rio, causando a degradação do mesmo.

 Foto: Gilka Oliveira
Queimada na ilha de Massangano
Na Ilha do Rodeadouro, a gerência de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Juazeiro realizou no ano passado, em parceria com o IBAMA uma ação de coleta do lixo acumulado nas praias da ilha. Este ano a Associação de Barraqueiros da Ilha Culpe o Vento solicitou  uma intervenção naquela comunidade. No dia do rio São Francisco, foi realizada uma palestra com crianças do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental, moradoras da ilha; além de coleta do lixo, replantio de vegetação nativa, retirada do gado e outros animais que pastavam soltos pela ilha, causando a degradação do meio ambiente. Estão previstas ainda a colocação de placas educativas visando a conservação. A depender do resultado destas ações, a prefeitura pretende estender às outras ilhas ações semelhantes.                                                                                
  
Foto: Gilka Oliveira
Placa na ilha do Rodeadouro, alertando para a importância depreservar o rio. 
Nas ilhas do Massangano e Rodeadouro que atraem centenas de pessoas nos finais de semana, a ocupação é crescente e isso significa uma utilização cada vez maior dos recursos naturais.

Segundo seu Manoel Rodrigues da Silva Santos, 74 anos, morador da ilha do Rodeadouro desde 1964, mais conhecido por seu Né, apesar do  desmatamento da mata ciliar para abastecer os antigos barcos a vapor e que muito contribui para a devastação da mata ciliar, os problemas se agravaram ainda mais após a construção da barragem de Sobradinho. Segundo ele, o rio era mais fundo e menos largo, o que evidencia o assoreamento do rio, além disso várias são as ações antrópicas realizadas pelo governo que na sua opinião, prejudicam o meio ambiente. “O projeto para levar água para o Rio Grande do Norte, será que não desmata não? E cadê a punição? O projeto Salitre taí vai ser o maior projeto do Rio São Francisco e o governo não dá jeito” “Agora para o turismo tá bom, mas para as ilhas tá ruim”, alerta.

Latinhas de cerveja em uma das praias fluviais da ilha do Rodeadouro.
Ele afirma que muitos visitantes não têm o cuidado de recolher o lixo gerado durante sua estadia, deixando-o disperso na ilha. Os artesãos da ilha costumam se mobilizar para recolher o lixo acumulado, constituindo uma de várias ações semelhantes já realizadas periodicamente na ilha. Para ele, diminuir o número de construções próximas ao rio e o tamanho das bombas d’água que utilizam a água ao longo do São Francisco, é uma alternativa para evitar a crescente degradação do mesmo.

Seu Né, mais antigo barraqueiro e grande conhecedor da ilha do Rodeadouro.
Em locais como em uma das extremidades da ilha de Massangano, cuja travessia fica a cinco minutos da ilha do Rodeadouro, alguns moradores já estão colocando sacos de areia na tentativa de evitar a queda de árvores nas margens quando o rio sobe. Seu Manoel Antônio dos Santos, morador da ilha de Massangano, filiado desde 1982 à colônia de pescadores de Sobradinho e sócio fundador da mesma, com o tempo foi obrigado a diversificar suas atividades profissionais devido à diminuição no tamanho dos peixes, tornando a atividade inviável. Hoje, aproveitando o turismo nas ilhas ele exerce a atividade de barraqueiro para complementar a renda familiar. “Quando enche, o rio vai avançando nas margens quebrando as barrancas da beira do rio e derrubando as árvores”, diz.    
                                                                                                                

Seu Antônio, pescador, barraqueiro e morador da ilha de Massangano a quarenta anos. 
O Agente Ambiental Federal do IBAMA, Ulmar Guarani, relata que, com o avanço da degradação da mata ciliar, muitas espécies como o jatobá, o tamarindeiro, a ingazeira, o umbuzeiro e o marizeiro que eram comuns nas ilhas foram desaparecendo e  muitos peixes frugívoros, que se alimentavam de frutos que caíam nas águas do São Francisco praticamente não existem mais. Além disso com a barragem de Sobradinho, muitos peixes ficavam presos nas turbinas durante a pirapora pois não conseguiam subir a barragem, como conseqüência muitas espécies foram desaparecendo do rio e outras não nativas foram introduzidas por pessoas leigas em questões ambientais, modificando aquele  ecossistema.
Segundo Ademir Fernandes da Silva, do setor de projetos e educação ambiental da Secretaria de Agricultura Desenvolvimento e Meio Ambiente da Prefeitura de Juazeiro, está prevista para esse ano uma reunião envolvendo barqueiros, barraqueiros, SEBRAE, Ministério Público, UNIVASF, IBAMA, prefeituras de Juazeiro e Petrolina, entre outros setores da sociedade, para apresentação dos principais problemas ambientais e respectivas propostas para a Ilha do Rodeadouro. O plano que já foi apresentado à Marinha e ao IBAMA, conta com o planejamento do estudante de arquitetura da Universidade de Nápoli, Mateo Nigro e visa um melhor aproveitamento da ilha de uma maneira sustentável a longo prazo.                                                                         
Embora o Ministério Público juntamente com o IBAMA realizem várias ações para a preservação do meio ambiente e haja a preocupação de muitos comerciantes e moradores das ilhas fluviais em preservar, muitas infrações ainda são cometidas dificultando a preservação adequada dos recursos naturais das ilhas, provavelmente ações no âmbito da educação ambiental com a participação de visitantes e sociedade civil em geral, seja o caminho mais adequado para uma mudança de postura frente às questões ambientais.

Texto e Foto: Gilka Oliveira






sábado, 3 de março de 2012

Viver é uma arte



Por Gilka Oliveira


O encontro estava marcado para o final da tarde. No pátio da universidade, observo-o na orientação da monografia de uma das alunas do curso de Pedagogia. A calma sempre evidenciada por um tom de voz constante e uma atenção sincera e cordial, dispensada a quem o solicita, contrastam com a falta de tempo que envolve a maioria das pessoas nos dias atuais e não faz dele uma exceção.
Filho do comerciante  Francisco  Benevides de Alencar e da dona de casa Júlia Carlos de Alencar, é o penúltimo dos cinco filhos do casal. Passou a infância em sua cidade natal, Juazeiro do Norte, visitando regularmente a tia Vicencia, que morava no Crato e a quem considera uma de suas quatro mães, além da biológica, da ama de leite e da tia Maria Carlos, carinhosamente chamada de mãe-titia, que o levava quando pequeno às festas religiosas de sua cidade natal.
Com exceção do primogênito que tinha o mesmo nome do pai, todos os irmãos tem os pré-nomes iniciados com a letra R, no entanto por ter nascido com o pescoço envolto no cordão umbilical,  em função de uma promessa feita pela mãe a São José, foi registrado como José Rener.
Jose Rener Benevides de Alencar,  recorda-se entre outras coisas de sua infância, da primeira professora, Maria Santa, em uma época na qual a palmatória ainda era utilizada, sua mãe todavia não acreditava que os castigos físicos fossem o melhor recurso, recomendando a professora que aquilo não era necessário, talvez disso derive boa parte do seu entendimento sobre educação.
Na escola improvisada as crianças traziam as cadeiras de suas casas, para serem alfabetizadas, o que possibilitou mais tarde a construção de poesias, sua primeira manifestação através da arte.
No início da adolescência, por volta dos 11 anos muda-se com a família para Petrolina, onde reside até  hoje. Aos 15 anos começa a fazer teatro e passa a conhecer a religião Hare Krishna da qual fez parte dos 15 aos 19 anos, juntamente com integrantes do seu grupo teatral que viajavam a Feira de Santana para visitar o templo.
No ensino médio, devido ao contato com a natureza, optou pelo curso de agrotecnia, surgindo durante essa época, o teatro, através de sua participação no Grupo de Teatro Autran, de Petrolina, responsável pela 1ª  visita do ator Paulo Autran ao nordeste, na referida cidade. Com o grupo, Rener, se apresentou em cidades como Salgueiro, Feira de Santana e Salvador, não havendo uma motivação financeira, o fazia por idealismo e prazer.
A convite de amigos aceitou participar na decoração de carnaval de dois grandes clubes de Juazeiro, considerando essa sua primeira grande experiência com artes plásticas e o que o motivou a pintar em seu quarto um desenho de Gal Costa; elogiado por seu amigo Paulo Brito, que o incentivou a optar pelo curso de Belas Artes.
Chegou a Salvador em 1980 para cursar Belas Artes na UFBA, mesmo a contragosto de um de seus tios, que julgava não ser aquele o melhor caminho para ele, contou com o apoio do pai, que o ajudava financeiramente dentro do possível, mesmo auxiliado pelo crédito educativo concedido pela universidade, sua renda era insuficientes para manter-se, obrigando-o a trabalhar enquanto estudava.
Trabalhou juntamente com sua amiga Judite, como garçon no Bar Sarau, no bairro do Rio Vermelho, freqüentado por muitos artistas.  Nesse período desenvolveu alguns trabalhos como colares em cerâmica, fotografias e restaurações em locais históricos como o Palácio Rio Branco, a convite de seu professor de restauração, José Dirson Argolo, durante o período em que  a prefeitura estava deixando o Palácio para se instalar no prédio atual.
Juntamente com o caricaturista argentino Eduardo Britz, pintou um painel da Santa Ceia, na Paróquia do Auto de São Francisco na Boca do Rio,  o qual causou muitos comentários devido às cores fortes utilizadas e pela representação dos rostos com fisionomias de pessoas conhecidas da paróquia, como o padre e os próprios artistas,  sendo ele representado como São João. O dinheiro desse trabalho, possibilitou-o viajar para a Argentina, num momento em que vários artistas estavam retornando do exílio e realizando vários shows gratuitos como forma de celebrar o fim da ditadura militar, que ainda se mantinha no Brasil, o que possibilitou um contato mais amplo com a cultura e artistas locais.
Em Salvador teve vários endereços, como a residência universitária. Nos vários momentos em que a faculdade esteve em greve,  participou dos movimentos estudantis por melhorias, entre eles, na época em que o então reitor, Rogério Vargens, foi trancado no banheiro da universidade, como forma de protesto, em uma ocupação da UFBA da qual participaram Lídice da Mata e Ravier Alfaia, ex-presidente da UNE, chegando a contar com a intervenção do exército e da polícia na ocasião.
Embora acreditasse que seria possível viver trabalhando com Arte, após o término da faculdade percebeu que as coisas não seriam tão ‘fáceis’ assim, optando por morar em Gioânia durante um ano, onde trabalhou como eletricista para uma empresa do ramo de alarmes para bancos e joalherias. Nos finais de semana coletava pedra-sabão para  fazer esculturas, assim, conseguiu realizar uma exposição, mas o campo era muito fechado à atuação de pessoas de fora e os concursos na época só permitiam a participação de pessoas estabelecidas após 5 anos na região. O que o fez retornar para o Nordeste; na época a seleção por concurso ainda não era uma exigência da Escola Agrotécnica de Petrolina, onde trabalhou por um ano como professor de educação artística. Após 2 anos desempregado, foi convidado para pintar alguns painéis na mesma escola; na época já estava aguardando o chamado da UNEB para ensinar no campus de Juazeiro, onde atua como professor a quase 18 anos.


Foto: Kall Britto
Embora apenas a mãe se recorde do tempo em que o pai trabalhava no comércio de gêneros alimentícios, lembra-se que na infância seu pai viajava muito devido ao trabalho como comerciante de jóias, passando vários meses longe da família , ao retornar, ele juntamente com a irmã, gostavam de ajudar o pai a organizar os mostruários. As correntes e demais peças que costuma usar, evidenciam essa familiaridade e carinho por tais objetos, embora o terço, chame a atenção para outro traço de sua personalidade: a espiritualidade.
Batizado na Igreja Católica, recorda-se que desde a infância na terra de padre Cícero, a religiosidade sempre esteve presente em sua vida, por volta dos seis anos de idade, ia  com a tia ao terreiro de Umbanda, tendo vivido a filosofia Hare Krishna durante parte de sua adolescência e se interessado posteriormente por várias linhas voltadas a questões espirituais como: o budismo, o candomblé, o kardecismo e  o esoterismo, das quais cultiva uma espiritualidade baseada em pensamentos ora sob uma vertente mais religiosa ora sobre idéias mais científicas como as de Nietzsche, Empédocles e Morin, fazendo lembrar a frase de Saint Exupéry de que “o essencial é invisível aos olhos”, talvez essa seja a base para a serenidade e bom senso evidenciados em sua personalidade.
Aos 51 anos, o físico revela o estilo saudável adotado desde a adolescência, ao deixar a carne vermelha e adotando a prática da yoga durante os anos que seguiu a filosofia Hare Krishna. Da época que viveu em Goiânia e morava próximo a uma unidade da  Associação Atlética do Banco do Brasil – AABB, mantendo desde então a prática da musculação. A bicicleta adotada como veículo na época da faculdade, quando precisava assistir aulas em diferentes locais da UFBA, contribui para a manutenção de um aparência saudável.  Os cabelos finos e uma calvície levemente insinuada, o fez optar pela ausência total dos mesmos. Todavia, para quem não conhece de perto, outro fato chama mais a atenção, os piercings, no supercílio, nariz, orelhas e mamilos, para quem viveu parte de sua adolescência em contato com uma religião indiana, cuja representação de muitas das divindades possuem adereços e elementos inconvencionais para a cultura ocidental, uma estética diferente traz consigo um olhar mais abrangente sobre a vida: “ Eu gosto da transgressão como forma das pessoas ampliarem sua percepção do mundo e da diversidade.” Tudo isso se manifesta no relacionamento e respeito que direciona para os outros, mas nem sempre reflete no olhar que muitas vezes lhe é direcionado.
Os conceitos prévios a que qualquer pessoa pode ser submetida, requisitaram-lhe a coragem para superá-los, respeitando a própria diferença, mesmo no local de trabalho, tendo  sido colocadas com objetividade até neutralizá-las. No âmbito da universidade, a circulação de idéias diversas como produto do pensamento humano, talvez favoreçam a quebra de barreiras, mas o respeito às diferenças, mesmo em um mundo globalizado, ainda requer mais atenção a esse notável detalhe.






                                                                                             


quinta-feira, 1 de março de 2012

Mulheres Empreendedoras - Desenvolvimento e Conquista


Por Equipe

Historicamente, a mulher brasileira é a das que mais empreende no mundo. Várias pesquisas mostram que esse número tem crescido bastante em todo Brasil, bem como na região de Petrolina e Juazeiro. Diferentes são os motivos para que elas procurem cada vez mais se tornarem empreendedoras. O desenvolvimento é notório na sociedade e mesmo com todas as dificuldades ela busca cada vez mais sua independência.
Visando a independência financeira e realização profissional ou mesmo o sustento da família, as mulheres já ocupam um lugar de peso na economia nacional. Segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor - GEM – entidade que pesquisa índices de empreendedorismo mundial, as brasileiras estão entre as mulheres que mais se lançam ao empreendedorismo. Somente, no ano de 2010, entre os empreendedores iniciais, 49,3% eram mulheres, essa foi uma conquista delas, que agora estão em um novo parâmetro e lutando de igual para igual com os homens.                                                                                          
Considerando esse percentual e com a finalidade de valorizar e incentivar a participação da mulher, foi criado o Prêmio Sebrae Mulheres de Negócio, uma iniciativa do Sebrae, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e Federação das Associações das Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil (BPW), que conta com o apoio técnico da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ),em Juazeiro.
             Essas iniciativas surgem através de financiamentos do SEBRAE em parcerias com Bancos ou Associações com outras pessoas. As mulheres empreendedoras do Vale do São Francisco por meio dessas parcerias vêm aumentado à renda familiar e obtendo uma autonomia financeira.  As funções mais comuns são proprietárias de salões de beleza, lojas de roupas, artesanato, entre outras atividades. Atualmente elas não trabalham apenas para serem chefes de família, pois o perfil delas têm sido de empreendedoras. 
            É visível a satisfação da mulher brasileira que consegue  montar seu negócio. Conquistar independência é um sonho e uma conquista  de espaço no mercado. É o caso de  Edlaine Nascimento, uma jovem empreendedora da cidade de Juazeiro, que atualmente montou uma loja de produtos evangélico na cidade. Ela aplica em sua empresa sua experiência de ter trabalhado como administradora e gerente em outro estabelecimento e afirma que a experiência é cansativa mas prazerosa e muito satisfatória e vale apena.
 Exemplos de mulheres empreendedoras ocorrem também na cidade de Senhor do Bonfim, como a empresária Vera Lúcia Santos Almeida, de 53 anos, que juntou força de vontade e trabalho para conseguir êxito. Mãe de dois filhos e viúva começou no mercado informal, vendendo utensílios de alumínio junto com sua tia. Logo, aos 15 anos, ingressou em uma fábrica de lentes, trabalhando depois como atendente em várias óticas, até resolver abrir seu próprio negócio em 2010, pois percebeu que o assunto que melhor conhecia era relacionado a produção e manutenção de óculos. Dessa forma, ela procurou financiamentos em bancos para investir em seu próprio negócio. Porém, no inicio, teve algumas dificuldades na finalização da obra e passou alguns meses com a ótica de portas fechadas, mais isso não a impediu de prosseguir e, atualmente com um ano e dois meses de inauguração, a proprietária da ótica Bela Vista já conta com 768 clientes e está satisfeita com os resultados. “Ser dona do meu negócio é melhor, eu ganhava na faixa de 700 reais por mês, mas não podia nem sair para almoçar, logo que fiquei viúva não podia dar nada a meus filhos, hoje eu compro o que quero,” enfatizou a empresária. 

 Outro Exemplo de Conquista no Empreendedorismo
A empresária Ana Cláudia Matos da Silva Rodrigues, aos 31 anos, em parceria com o marido, é dona de uma loja de cosméticos há 10 anos. Segundo ela, a idéia surgiu quando lecionava e o então noivo era dono de uma distribuidora de cosméticos. Resolveram montar uma loja que inicialmente ocupava um quarto do espaço atual, tendo sido ampliada após um ano e meio de funcionamento. Com o crescimento da loja seu marido, desfez o antigo negócio e passou a atuar apenas na loja. A empreendedora divide com o seu companheiro as tarefas referentes a administração e contabilidade, todavia o gerenciamento dos doze funcionários e questões relativas ao atendimento e caixa ela mesma vistoria pessoalmente. Para superar os concorrentes, Ana realiza semestralmente cursos de capacitação para manter-se informada sobre as novas tendências e produtos. Ela diz que a maior dificuldade para se manter no negócio é a carga tributária e as exigências legais crescentes, além disso, a inadimplência e o curto prazo oferecido pelos fornecedores também dificultam, mas, pela sua experiência, o maior desafio para quem pretende ingressar neste ramo é a falta de conhecimento no setor. De acordo com a comerciante, durante o tempo em que atua no comércio de Senhor do Bonfim. Já viu fechar cinco lojas de cosméticos na cidade.
 Ela considera que seu êxito deve-se a variedade de produtos e ao bom atendimento, motivo este pelo qual obteve o reconhecimento pelo quarto ano consecutivo, junto ao SEBRAE, CDL e Associação Comercial de Senhor do Bonfim, acreditando que tal fato influenciou na escolha de seu nome para a vice-diretoria, além disso, também atua como representante no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e é Secretária do Sindicato do Comércio local. Em médio prazo, ela pretende oferecer cursos de capacitação aos funcionários e construir um centro técnico, como forma de ampliar cada vez mais o negócio. “Só não busco preço porque acho que não é isso que fideliza o cliente hoje”, acredita.

 
O Grande Desafio
          Para Rodrigo Teles, diretor geral do Instituto Endeavor, o grande desafio, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, é multiplicar o número desses empreendedores que geram emprego, renda e melhoram a vida de milhares de brasileiros. E isso só será feito com investimentos contínuos em programas e políticas de apoio ao empreendedorismo. A partir de meados da década de 1990, o termo “empreendedorismo” começou a ficar conhecido em todo o mundo. Desde então, diversas são as iniciativas em todas as regiões do país, desde o investimento em educação empreendedora e em pesquisa e  desenvolvimento de novas tecnologias e a facilidade de acesso a capital até as melhorias no ambiente regulatório e a disseminação da atitude empreendedora.
 Em alguns casos, prover o sustento da família é o que impulsiona a busca do próprio negócio. Foi o que aconteceu com a empresária do ramo de roupas e acessórios, Necy Francisca de Alencar de 64 anos, que está no ramo há mais de 30 anos. Ela passou a sustentar três filhos em 1976 quando o marido a abandonou. Inicialmente, trabalhou como sacoleira em Feira de Santana e depois se mudou para Petrolina onde conseguiu estabelecer comércio fixo no centro da cidade, aos poucos, foi adquirindo uma clientela fiel. Sustentou os filhos, estudando em escolas da rede particular, que também seguiram o mesmo ramo, um deles é um bem sucedido comerciante de vendas em atacado e varejo. Segundo ela, no início foi difícil assumir o papel de chefe da família tendo como fonte, apenas um trabalho informal e devido à responsabilidade de criar os filhos sozinha. As despesas fixas eram incompatíveis com um salário instável. Hoje, no entanto tem orgulho da profissão que seguiu e da habilidade desenvolvida nesse ramo ao longo do tempo.

 Associação das Mulheres Rendeiras de Petrolina
Em Petrolina, a Associação das Mulheres Rendeiras do bairro José e Maria promove discussão sobre os direitos e deveres das mulheres através de encontros semanais, bem como oferece atividades ligadas ao artesanato e culinária. A partir desses trabalhos, como uma força de geração de renda, elas ganham experiências para desenvolver suas habilidades e contribuir com o orçamento familiar. Um exemplo de conquista é o da fundadora e presidenta da Associação Angelita Maria dos Santos, que dá apoio e incentivo para as mulheres da comunidade. Ela diz que a Instituição prepara as mulheres para o mercado de trabalho, dando oportunidade de terem uma segunda renda na família além de utilizarem o espaço como uma forma de concentração. A cooperativa se torna uma forma de complemento no orçamento. Os produtos são feitos a médio e longo prazo  e sempre dando espaço as integrantes, pois elas fazem mais de um serviço para obterem renda. A importância do grupo não está somente em gerar renda, mas serve também como uma terapia, pois dá possibilidade para mulheres que chegam à cooperativa com problemas psicológicos e sem emprego. À medida que vão desenvolvendo as atividades, elevam a estima. Atualmente, são mais de 30 mulheres que participam e mantém a Associação, porém elas buscam emprego fora da Associação pela necessidade que elas têm. “Elas precisam buscar outras coisas paralelas a essa atividade, um emprego ou uma faxina porque as peças que elas produzem hoje não garantem que sejam vendidas no mesmo dia e a necessidade é urgente, por isso elas precisam fazer um pouquinho aqui e pouquinho lá fora para poder se manter”, enfatizou Angelita Maria.

Tecnologias ajudam no empreendendorismo 
           A capacidade de empreender faz a diferença nos processos de desenvolvimento socioeconômico das nações. Por isso, torna-se cada vez mais importante conhecer, com segurança, os diferentes perfis de empreendedores, quais os fatores e motivos que os levam a empreender e como empreendem. Entre 42 países do mundo, o Brasil ocupou, em 2008, o terceiro lugar em termos de participação de jovens em  atividades empreendedoras. Por outro lado, no que diz respeito ao público idoso, o Brasil ocupa a trigésima posição.
         Embora sendo um dos países mais empreendedores do mundo o  Brasil apresenta a mais baixa proporção de uso de tecnologias novas em relação a países coimo: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Uruguai, Rússia, Índia e Africa do Sul: somente 1,7% dos empreendimentos iniciais e 0,7% dos empreendimentos estabelecidos usam tecnologias disponíveis há menos de um ano. No caso de uso de novas tecnologias, também se destacam: Chile, com 33%, Índia, com 28%, e África do Sul, com 25%, segundo dados de pesquisa realizada pelo (falta dizer qual é a fonte do contrário não tem nexo nem finalidade) 
         Devido a importância do empreendendorismo, a PLANTEC, uma empresa de assistência técnica contratada pela Companhia de Desenvolvimento do Vale (CODEVASF), procura estimular a geração de renda entre as mulheres que não têm um emprego fixo. Dessa forma, a empresa incentiva o trabalho coletivo estimulando o associativismo e também realizando encontros que divulgam o trabalho dessas mulheres. Para a moradora do Perímetro Irrigado Bebedouro, Maria dos Santos Alencar, o encontro foi bastante proveitoso. “Acho muito importante participar de um evento como esse em que a Codevasf e a Plantec dão mais atenção para nossa comunidade dos núcleos dos perímetros, principalmente a nós, mulheres”, ressaltou. A assistente social do projeto, Eucilene Rodrigues, enfatizou sobre a importância desse trabalho. “A gente traz e mobiliza cursos através do SENAI, SEBRAE, e estamos sempre buscando parcerias com a Secretaria da Mulher e com a prefeitura”, diz Eucilene.
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 O analista do Sebrae de Juazeiro(BA) Carlos Cointero  fala que grande parte das mulheres  se tornam empreendedoras  para obter uma independência financeira e que a instituição apoia por meio de cursos profissionalizantes, palestras. O Sebrae também encaminha as pessoas para obterem financiamento para montarem seus negócios.  Segundo Carlos  Cointeiro, fortalecer ideias e colocá-las em práticas é um dos objetivos da Instituição de fomento.

        O emprendendorismo feminino vem ganhando cada vez mais espaço na economia nacional e chama a atenção para essa contribuição das mulheres, não só para o desenvolvimento, mas também para ampliação de políticas públicas que favoreçam tais iniciativas como na geração de novos estudos sobre os impactos dessa realidade na sociedade de modo geral, pois com conhecimento especializado o avanço feminino na economia é inegável.




Danças "Afro": O Costume Negro no Vale do São Francisco

Por Roselí Santos 

Instituições do Vale do São Francisco têm valorizado a cultura afro descendente, através de palestras, seminários e minicursos que trazem em debate a importância do negro na construção  da história.

As programações  e conteúdos acontecem em escolas, universidades e espaços de eventos. O instituto cultural de Arte e Educação Nego Dgua(Naenda)  desenvolve danças rítmicas, capoeira e cursos profissionalizantes.
O coordenado do grupo Adegivaldo Mota da Silva se emociona ao falar sobre os encontros realizados. “Desenvolver trabalhos  de valorização do negro,  trazendo a história, dança e cultura  desses povos é um dos meus objetivos”.enfatiza.

   Os africanos foram retirados do seu país de origem para serem escravizados no Brasil. Concentrando-se no estado da Bahia, trouxeram consigo constumes, podendo destacar a  dança afro  que  foi se fortalecendo durante os anos e é praticada até hoje como uma forma de manutenção cultural.
 Para  reconhecer a importância dessa cultura, a Universidade Federal Vale do São Francisco(Univasf) em Petrolina( PE) dispõe de momentos de conscientização onde  por meio de  grupos de danças  os discentes  conhecem a  "dança afro"  por meio da música “batucada”. Esses encontros são realizados nos intervalos das aulas,  onde passos e ritmos são  voltados a memória do povo negro popularizando ainda mais essa cultura. O professor Marcelo Nascimento, auxiliar do projeto de dança diz ser importante essa iniciativa para solidez dessa cultura.
“o contato acontece através das atividades desse projeto de extensão que permite que os  estudantes  se integrem  usando como meio de intersecção a dança afro” afirma,Marcelo. 

                                        
Nesse pensamento,  o artista “Afro”e professor Maércio José, ou  “tio Zé Bar” como prefere ser chamado, avalia a ligação entre essa “dança afro” e as rede ensino, mas ressalta que esses movimentos  precisam promover   uma identificação com a ancestralidade da  etnia.
Para ele, esse  ritmo que começou como uma forma de libertação das opressões, hoje se tornou um espetáculo que reúne milhares de pessoas.O músico diz que  atualmente a dança afro tem  uma roupagem mais contemporânea, fato que contribui para enriquecimento e quebra de idéias racistas produzidos durante séculos, mas que essa  conquista do negro é    um fato a ser  analisado com cuidado para  que essa explosão cultural, não seja mas  uma nova fase da industria cultural, enfatiza, Maércio.
  Para a fotógrafa e pesquisadora da tématica do negro no Brasil, Marcia Guena, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), a dança afro pode ser utilizada de  diversas vertentes, na forma de prática esporte ou na  religião. Segundo a  estudiosa, não se pode fazer a afirmação  que os ritmos de danças africanas  têm  fins religiosos. Ela reforça que a dança  só passa ser um ritual de ancestralidade espiritual, quando esta inserida no conceito da religião Candomblé.
Com isso, a perpetuação dessa arte apenas será possivel quando a sociedade procurar entender as práticas do outro com um olhar de respeito, valorizando o significado de cada  cultura popular.



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A beleza através do tempo

Por Aline Oliveira
        Ela é encantadora, nasceu na Itália, filha de mãe brasileira e pai italiano. Alegre e comunicativa vive com um sorriso estampado no rosto que cativa qualquer pessoa com seu jeito meigo. Em sua trajetória de vida relata um acontecimento que marcou muito. Foi o bombardeio, no ano de 1943, perto de Milão e próximo a sua casa.A Ítalia passava por uma grave crise economica no inicio da decada de 1930, com milhões de cidadãos sem emprego, e foi em meio a esses acontecimentos que ocorreu a segunda guerra mundal, este fato ficou registrado na memoria de dona Elena. Cursou faculdade de Química em Roma, no qual não fora concluído por causa do falecimento do seu pai, pois precisou trabalhar. Então, foi para Nova York, onde viveu por doze anos, trabalhando em uma Companhia, da qual ela nao lembra o nome, como secretaria. Alem do idioma referente ao seu país de origem, fala fluentemente a língua inglesa e um pouco do português, ainda misturado com o italiano.
 Com uma organização admirável, ela tem uma agenda onde mantém um controle sobre o que acontece ao seu redor, principalmente nomes de pessoas que a visita. O seu hobby é ler revistas, é uma maneira que ela encontra de se manter atualizada sobre o que está ocorrendo fora do ambiente onde ela vive. A italiana Elena Parati Spancz reside no Abrigo São Vicente de Paula, na cidade de Juazeiro Bahia. Neste local, mantem uma convivencia com vários idosos de maneira hamônica e solidaria, ela interage com qualquer um que se aproxime dela, é uma senhora muito gentil. em seu dormitorio divide o espaço com 12 companheiras.
Ao se apresentar para os outros, Elena faz questão de dizer que o nome dela é com E, e não com H, que é mais comum, porque, segundo ela,com E ele fica italiano.
Uma simplicidade que emociona e diverte quem está por perto, sejam os enfermeiros que cuida desses idosos, ou visitantes e voluntários. Elena pode estar conversando, super a vontade com alguém, mas se uma mosca pousa em qualquer parte corpo dela, ela fica agoniada, para de conversar e, enquanto alguém não se manifesta para abanar e tirar a mosca, ela não para de falar “Oh mosca, bye, mama mia”!

Com seus 81 anos de idade, pele clara, cabelos curtos e pintados de preto, Elena Spancz nasceu no dia 3 de Junho de 1929, e apesar de sua idade ainda se mostra bastante vaidosa, mas ela não se importa em engordar um pouquinho. Sua comida predileta aqui no Brasil é a feijoada. “Eu gosto de comer bem”, afirma. Quando morava na Itália, ela não deixava de saborear as pizzas.
 Elena Spancz antes de residir no abrigo, morava na capital de Pernambuco, em Recife, numa pensão. Não gosta de viver em cidade pequena, mas ela diz que não tem escolha.
É viúva, perdeu seu marido depois de 30 anos de casados. Ela considera que seu casamento foi ótimo, seu marido era húngaro, mas novo do que ela cinco anos. Descontraída ela brincava que achava que ela morreria primeiro,com o marido, apenas um filho, chamado Sergio Spancz, de 35 anos.
 Ao falar de seu filho Elena se mostra descontente com algumas atitudes dele. Ele não possui emprego fixo, uma posição social e depende de sua pensão, de 2.998 reais para manter-se. Então, ele paga o abrigo que ampara sua mãe e se sustenta. Ele não a visita com frequência, e observa que ele só vai lá uma vez ou outra, por causa de sua pensão.
Apesar de nao ter a companhia do filho, essa senhora está satisfeita com a vida Ela é feliz e se sente protegida onde está. Apesar de seu modo de vida no passado ter bem dinâmico, destacando-se suas viagens nacionais e internacionais,  Elena Spancz passa uma expressão de uma pessoa realizada no local pacato onde vive.

Eventos alternativos fortalecem o crescimento de Bandas de Garagem na região


Por Aline Oliveira
No Vale do São Francisco, o setor de música composto por jovens que se reúnem em locais alternativos para ensaiar e mostrar seu trabalho vem crescendo. Conhecidas como bandas de garagem, esses grupos têm que lutar para conseguir resultados positivos. A falta de recursos, o baixo valor recebido pelos shows realizados, que são insuficientes para manter a banda, comprar e renovar seus instrumentos, dificultam o desenvolvimento do trabalho dessas bandas.
   Segundo o produtor de bandas de garagem e que atualmente integra o grupo Crematorium, Junior Souza, “ninguém investe naquilo que as mídias não divulgam”. Para os artistas, o incentivo e apoio às bandas de garagem, que trazem para a sociedade a boa música e que se preocupam em transmitir para o público a realidade social, são importantes para o fortalecimento cultural na região.
De acordo com a Secretaria de Cultura de Petrolina, Roberta Duarte, os eventos e festivais são criados para dar oportunidade para esses grupos mostrarem seu talento. Contudo, o incentivo à cultura ainda tem dificuldade de se inserir em âmbito de nível municipal, estadual e federal. “A demanda hoje de grupos alternativos é muito grande na região, por isso há certa dificuldade em conseguir espaços adequados para a realização dessas atividades musicais”, afirma a superintendente.
O produtor de eventos de bandas locais e, integrante do programa Coletivo Coletânea, que tem o objetivo de divulgar o trabalho dessas bandas, Jocélio Belo, destaca que o que dificulta para as bandas alternativas expandirem seus trabalhos é a falta de apoio do poder público em inserir essas bandas na programação cultural da cidade. “A gente quer divulgar um produto novo, mas as bandas não têm apoio”, disse Jocélio.
O ex-gestor de cultura da Secretaria de Juazeiro, Beto Borges, hoje Secretário de Administração da Prefeitura, diz que o poder público apóia os grupos musicais de maneira material, por meio da contratação de palco, sistema de luz, de um som, e não financeira. “Nós não podemos pegar o dinheiro da Prefeitura e fazer contratações, temos procedimentos e regras a seguir”, esclarece.
 Para o gerente, o desenvolvimento de bandas independentes, tanto em Juazeiro quanto em Petrolina, é bastante reconhecidos, porque são grupos, com um estilo de música autoral e que não está enquadrado em produtos que dominam o mercado, como por exemplo, bandas que tem grandes recursos financeiros. “O importante é que essas bandas estejam disponíveis e aptas ao consumo no meio cultural, porque elas são resultadas de modos de fazer e das praticas sociais”, enfatiza ele.

Criada há três anos, a banda “Quinta Coluna” começou quando um grupo de amigos resolveu tocar coovers de bandas famosas e fazendo releituras de bandas nacionais no estilo deles e daí o grupo foi se desenvolvendo e hoje já gravou seu CD autoral.
A banda Quinta Coluna é um exemplo de parceira com a Universidade, especificamente, a do Estado da Bahia (UNEB). Segundo o produtor e integrante da banda, Bruno Souza, o grupo não recebe apoio cultural, mas existem iniciativas, como patrocínios de empresas privadas, os convites de universidades, que ajudam no crescimento do público para com a banda e, principalmente os festivais oferecidos na região. 

 Na medida em que surgem as oportunidades nos espaços públicos, o pessoal vai mostrando algo novo e de qualidade. Esse incentivo e apoio à produção de bandas contemplam o artista, e o público passa a reconhecer e valorizar seu trabalho.A criação de eventos independentes também é uma maneira das bandas de Garagem adquirir um reconhecimento no meio social. Junior Souza, que vem participando de produção de bandas há cinco anos, diz que, com a chegada dos grandes festivais na região, como “Raiz e Remix”, “Conexão vivo” e o “Umbuzada Sonora”, o público tem crescido. “É importante frisar as universidades da região, que trazem um número cada vez maior de pessoas que procuram a música e composições de qualidade na nossa região”, enfatizou Bruno Souza.