Por Icelindre
Andrade
Você já ouviu falar em Samba
de Véio, grupo de samba do Rodeadouro, de Juazeiro, que valoriza a cultura
Afro? E o grupo dos Congos, que conserva o culto à Nossa Senhora do
Rosário, santa que representa uma
tradição de fé que une o povo negro em diferentes regiões do Brasil. Essas são
algumas das manifestações culturais que, ao longo da trajetória, têm
enriquecido a cultura da região do Vale do São Francisco, embora tenham grandes
dificuldades para se manter.
Recentemente, grupos como a
banda “Apocalypse Reggae”, de Petrolina, e o grupo de “Hip-Hop” de Juazeiro,
têm se destacado na valorização da cultura, embora com dificuldades de
se apresentar periodicamente por falta de apoio e incentivo das Secretaria de
Cultura.
Segundo o líder dos Congos,
José Pereira Filho, mais conhecido como “Govéio”, o grupo se apresenta em
diversos locais da cidade de Juazeiro e em algumas localidades do interior,
como em Poço de Fora – Curaçá, na Lagoa do Salitre, na Ilha do Massangano, em
Itamotinga e Carnaíba do Sertão. Porém, as dificuldades são bem maiores para o
grupo se deslocar para o interior, pois necessitam do transporte, passagens,
alimentação e ainda de verbas para comprar as roupas, os sapatos e
os instrumentos. A maioria dos integrantes do grupo dos “Congos” não tem a
condição financeira suficiente, necessitando de recursos públicos. O líder do
grupo acrescenta ainda que eles só prosseguem nessa luta, porque existe a fé e
a missão de não deixar essa manifestação cultural acabar.
A partir da liderança de Govéi, os congos de Juazeiro-Ba formam um grupo
cultural marcadamente religioso, essa religiosidade esta fortemente expressa
através da saída dos congos no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário e no
dia de finados para visita ao cemitério da cidade. Os congos estão reavivando
os vínculos identitários que os distinguem enquanto grupo diferenciado, pois a sua prática constitui-se enquanto prática simbólica diferenciada das
outras que aconteciam paralelamente no dia de finados, no cemitério de
Juazeiro-Ba.A existência
desse tipo de religiosidade em muitos lugares do Brasil e especialmente neste
caso é, certamente, uma herança das tradições africanas, cuja religiosidade e
visão de mundo cultiva uma relação viva com os antepassados.
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Outra
manifestação cultural que contribui com a construção de uma identidade é o
grupo do Samba de “Veio”, do Rodeadouro em Juazeiro. Eles permanecem até os dias
atuais e o seu resgate cultural é algo que os moradores estão exercitando e
buscando preservar de diversas formas, tendo em vista que muitas são as
dificuldades para permanência das pessoas no grupo. O Samba de “Veio” fincou suas
raízes ao final da escravidão, e a palavra “samba” na língua dos escravos que
chegaram ao Brasil, significa “umbigada”. Essa tradição ressurgiu há muito
tempo na comunidade do Rodeadouro em Juazeiro, pois foi lá que ocorreram às
iniciais manifestações.
Atualmente, a dona Maria Perpetua Batista
Miranda é quem preside o grupo de samba de “veio” do Rodeadouro. Ela ressalta
os locais que o samba de “veio’ já se apresentou, como no Salitre, na Lagoa do
Sabiá, em Juremal, em bairros como Quidé, Tancredo Neves, e em locais como no
Caíque, no Centro de Cultura João Gilberto, e com mais freqüências em Escolas e
algumas universidades regionais, a exemplo da Universidade do Estado da Bahia. Ela enfatiza sobre as dificuldades de se
apresentarem principalmente no interior, como o custo com as passagens, com as
roupas e alimentação. Muitas vezes, os próprios integrantes do grupo pagam as passagens. Ela diz que uma das estratégias para conseguir preservar
essa tradição é fazer bingos e solicitar a ajuda dos moradores, para poderem
adquirir as roupas, os sapatos e os instrumentos.
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Se destacando bastante no cenário cultural,
existe atualmente em Juazeiro um grupo que vem resgatando a cultura do Hip-Hop.
O líder desse grupo se chama Eurivalter Cubertino da Rocha Filho, mais
conhecido como “Euri Mania”. Ele foi o
idealizador desse grupo de Hip-Hop, que atualmente tem entre 18 e 25
integrantes e vai completar três anos de existência que se reúnem para dançar.
O grupo se apresenta com freqüência aos sábados e aos domingos na “Lagoa de
Calú”, em Juazeiro, e diversas vezes são convidados a se apresentarem em
escolas, faculdades, festas e em campeonatos.
Euri Mania destacou algumas localidades que o seu grupo já se
apresentou, como no Mandacaru, em Sobradinho, em Carnaíba do Sertão, e cidades
como Exú no Pernambuco e Juazeiro do Norte no Ceara, tendo vista que o mesmo já
participou de alguns campeonatos interestaduais.
O artista Euri Mania diz que o Hip-Hop é um
esporte derivado da dança. O objetivo principal do grupo é utilizar uma área
acessível e fazer jovens que em suas horas livres possam se envolver com essa
cultura, e treinar para ficar a nível nacional. Porém, quando surge a oportunidade de apresentarem-se no interior,
na maioria das vezes os próprios integrantes do grupo, precisam disponibilizar
o dinheiro para cobrir as passagens e os custos com a alimentação. Eles contam
também com a ajuda da família, pois somente dessa forma tendo força e coragem é
que continuam resgatando essa cultura.
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As manifestações culturais da região tem tido
dificuldades em se manter. Beto Borges, ex-gestor da Secretaria de Cultura de Juazeiro e atualmente ocupando a Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal, esclarece que a prefeitura
tem apoiado de várias formas os diversos grupos culturais da região, visto que
ela é uma manifestação existencial das pessoas. Ele acrescentou que existem
limitações, mas é oferecido o apoio de outras maneiras com o transporte,
alimentação e não necessariamente com o cachê, pois existem solicitações
pendentes da Secretaria de Cultura.
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Mais conhecido como Tio Zé Bá, o vocalista
Maércio José da banda Apocalypse Reggae, tem um enfoque musical voltado para o
estilo reggae, que tem identificação com a matriz africana. Segundo ele, as
apresentações no interior dos municípios de Petrolina e Juazeiro não acontecem
com freqüências, pois no interior são mais difíceis pela
questão logística, pois geralmente precisam levar o som, os equipamentos, a
estrutura, os músicos e etc.
Segundo o artista, ele diz que falta uma
política por parte da Secretaria de Cultura de Petrolina, pois se não existir
essa política não tem como organizar o processo, "uma política de cultura
não é apenas o evento, é um investimento no dia a dia, em atividades culturais,
em capacitação, em manutenção de espaços culturais com leis de incentivos a
cultura". Então, é preciso existir um plano de política de cultura para ter uma
efetivação concreta, finalizou o artista.
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A Secretaria de Turismo e Cultura de Petrolina, Roberta Duarte, diz
que o apoio que a prefeitura de Petrolina tem dado ao grupo de samba de “Veio” da
Ilha do Massangano ocorre dentro das possibilidades, porém a equipe é pequena e nem
sempre conseguem dar conta de tudo. Ela ressaltou que tem a criação de uma
lei na Câmera de Vereadores de Petrolina, com intenção de fazer trabalhos específicos
em relação à cultura Afro Brasileira.
Roberta Duarte enfatiza que no Conselho Municipal de Cultura existem pessoas representando a zona rural e há uma ideia,
pois se sabe que devemos cada vez mais está perto da zona rural dessa cultura e
estar difundindo a cultura do centro urbano de um determinado setor para outro.
Sendo assim, a região do Vale do São
Francisco tem sua representabilidade cultural manifestada de inúmeras formas, e
dessa maneira enriquece a cidade de Petrolina e Juazeiro com suas
características. Porém, são evidentes os inúmeros problemas enfrentados por aqueles
artistas que tentam preservar essas manifestações, pois existem dificuldades para estabelecer uma política pública
incisiva e enfática na execução das demandas. Contudo, algumas lideranças
culturais vêm buscando cada vez mais o apoio dos dirigentes que são responsáveis por fomentar a cultura no Vale do São Francisco. .
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