quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os dilemas das manifestações culturais do Vale do São Francisco


Por Icelindre Andrade

Você já ouviu falar em Samba de Véio, grupo de samba do Rodeadouro, de Juazeiro, que valoriza a cultura Afro? E o grupo dos Congos, que conserva o culto à Nossa Senhora do Rosário,  santa que representa uma tradição de fé que une o povo negro em diferentes regiões do Brasil. Essas são algumas das manifestações culturais que, ao longo da trajetória, têm enriquecido a cultura da região do Vale do São Francisco, embora tenham grandes dificuldades para se manter.
Recentemente, grupos como a banda “Apocalypse Reggae”, de Petrolina, e o grupo de “Hip-Hop” de Juazeiro, têm se destacado na valorização da cultura, embora com dificuldades de se apresentar periodicamente por falta de apoio e incentivo das Secretaria de Cultura.
Segundo o líder dos Congos, José Pereira Filho, mais conhecido como “Govéio”, o grupo se apresenta em diversos locais da cidade de Juazeiro e em algumas localidades do interior, como em Poço de Fora – Curaçá, na Lagoa do Salitre, na Ilha do Massangano, em Itamotinga e Carnaíba do Sertão. Porém, as dificuldades são bem maiores para o grupo se deslocar para o interior, pois necessitam do transporte, passagens, alimentação e ainda  de verbas para comprar as roupas, os sapatos e os instrumentos. A maioria dos integrantes do grupo dos “Congos” não tem a condição financeira suficiente, necessitando de recursos públicos. O líder do grupo acrescenta ainda que eles só prosseguem nessa luta, porque existe a fé e a missão de não deixar essa manifestação cultural acabar.
            A partir da liderança de Govéi, os congos de Juazeiro-Ba formam um grupo cultural marcadamente religioso, essa religiosidade esta fortemente expressa através da saída dos congos no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário e no dia de finados para visita ao cemitério da cidade. Os congos estão reavivando os vínculos identitários que os distinguem enquanto grupo diferenciado, pois a sua prática constitui-se enquanto prática simbólica diferenciada das outras que aconteciam paralelamente no dia de finados, no cemitério de Juazeiro-Ba.A existência desse tipo de religiosidade em muitos lugares do Brasil e especialmente neste caso é, certamente, uma herança das tradições africanas, cuja religiosidade e visão de mundo cultiva uma relação viva com os antepassados.
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 Outra manifestação cultural que contribui com a construção de uma identidade é o grupo do Samba de “Veio”, do Rodeadouro em Juazeiro. Eles permanecem até os dias atuais e o seu resgate cultural é algo que os moradores estão exercitando e buscando preservar de diversas formas, tendo em vista que muitas são as dificuldades para permanência das pessoas no grupo. O Samba de “Veio” fincou suas raízes ao final da escravidão, e a palavra “samba” na língua dos escravos que chegaram ao Brasil, significa “umbigada”. Essa tradição ressurgiu há muito tempo na comunidade do Rodeadouro em Juazeiro, pois foi lá que ocorreram às iniciais manifestações. 
Atualmente, a dona Maria Perpetua Batista Miranda é quem preside o grupo de samba de “veio” do Rodeadouro. Ela ressalta os locais que o samba de “veio’ já se apresentou, como no Salitre, na Lagoa do Sabiá, em Juremal, em bairros como Quidé, Tancredo Neves, e em locais como no Caíque, no Centro de Cultura João Gilberto, e com mais freqüências em Escolas e algumas universidades regionais, a exemplo da Universidade do Estado da Bahia. Ela enfatiza sobre as dificuldades de se apresentarem principalmente no interior, como o custo com as passagens, com as roupas e alimentação. Muitas vezes, os próprios integrantes do grupo pagam as passagens. Ela diz que uma das estratégias para conseguir preservar essa tradição é fazer bingos e solicitar a ajuda dos moradores, para poderem adquirir as roupas, os sapatos e os instrumentos.
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Se destacando bastante no cenário cultural, existe atualmente em Juazeiro um grupo que vem resgatando a cultura do Hip-Hop. O líder desse grupo se chama Eurivalter Cubertino da Rocha Filho, mais conhecido como “Euri Mania”.  Ele foi o idealizador desse grupo de Hip-Hop, que atualmente tem entre 18 e 25 integrantes e vai completar três anos de existência que se reúnem para dançar. O grupo se apresenta com freqüência aos sábados e aos domingos na “Lagoa de Calú”, em Juazeiro, e diversas vezes são convidados a se apresentarem em escolas, faculdades, festas e em campeonatos.  Euri Mania destacou algumas localidades que o seu grupo já se apresentou, como no Mandacaru, em Sobradinho, em Carnaíba do Sertão, e cidades como Exú no Pernambuco e Juazeiro do Norte no Ceara, tendo vista que o mesmo já participou de alguns campeonatos interestaduais.
 O artista Euri Mania diz que o Hip-Hop é um esporte derivado da dança. O objetivo principal do grupo é utilizar uma área acessível e fazer jovens que em suas horas livres possam se envolver com essa cultura, e treinar para ficar a nível nacional. Porém, quando surge a oportunidade de apresentarem-se no interior, na maioria das vezes os próprios integrantes do grupo, precisam disponibilizar o dinheiro para cobrir as passagens e os custos com a alimentação. Eles contam também com a ajuda da família, pois somente dessa forma tendo força e coragem é que continuam resgatando essa cultura.
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 As manifestações culturais da região tem tido dificuldades em se manter. Beto Borges, ex-gestor da Secretaria de Cultura de Juazeiro e atualmente ocupando a Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal, esclarece que a prefeitura tem apoiado de várias formas os diversos grupos culturais da região, visto que ela é uma manifestação existencial das pessoas. Ele acrescentou que existem limitações, mas é oferecido o apoio de outras maneiras com o transporte, alimentação e não necessariamente com o cachê, pois existem solicitações pendentes da Secretaria de Cultura. 
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      Mais conhecido como Tio Zé Bá, o vocalista Maércio José da banda Apocalypse Reggae, tem um enfoque musical voltado para o estilo reggae, que tem identificação com a matriz africana. Segundo ele, as apresentações no interior dos municípios de Petrolina e Juazeiro não acontecem com freqüências, pois no interior são mais difíceis pela questão logística, pois geralmente precisam levar o som, os equipamentos, a estrutura, os músicos e etc.

 Segundo o artista, ele diz que falta uma política por parte da Secretaria de Cultura de Petrolina, pois se não existir essa política não tem como organizar o processo, "uma política de cultura não é apenas o evento, é um investimento no dia a dia, em atividades culturais, em capacitação, em manutenção de espaços culturais com leis de incentivos a cultura". Então, é preciso existir um plano de política de cultura para ter uma efetivação concreta, finalizou o artista.
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 A Secretaria de  Turismo e Cultura de Petrolina, Roberta Duarte, diz que o apoio que a prefeitura de Petrolina tem dado ao grupo de samba de “Veio” da Ilha do Massangano ocorre  dentro das possibilidades, porém a equipe é pequena e nem sempre conseguem dar conta de tudo. Ela ressaltou que tem a criação de uma lei na Câmera de Vereadores de Petrolina, com intenção de fazer trabalhos específicos em relação à cultura Afro Brasileira.
 Roberta Duarte enfatiza que no Conselho Municipal de Cultura existem pessoas representando a zona rural e há uma ideia, pois se sabe que devemos cada vez mais está perto da zona rural dessa cultura e estar difundindo a cultura do centro urbano de um determinado setor para outro. 
Sendo assim, a região do Vale do São Francisco tem sua representabilidade cultural manifestada de inúmeras formas, e dessa maneira enriquece a cidade de Petrolina e Juazeiro com suas características. Porém, são evidentes os inúmeros problemas enfrentados por aqueles artistas que tentam preservar essas manifestações, pois existem dificuldades para estabelecer uma política pública incisiva e enfática na execução das demandas. Contudo, algumas lideranças culturais vêm buscando cada vez mais o apoio dos dirigentes que são responsáveis  por fomentar a cultura no Vale do São Francisco. .


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